terça-feira, 31 de maio de 2016

Missal de Casamento

Boa tarde colegas e professora,

Quero aproveitar esta oportunidade para partilhar convosco uma das leituras de um casamento em que estive presente no passado fim de semana. A cerimónia foi na igreja e, quando abri o missal (guia dado a todos os convidados), deparei-me com este texto que foi lido em voz alta pelo padre.
Não sei se a minha admiração e se o meu espanto se devem ao facto de não ter ido a muitos casamentos religiosos ou se é por ser ignorante no que toca a leituras, mas penso que esta questão não deve ser apenas desconhecida por mim e portanto espero elucidar-vos para o facto de que ainda hoje há pessoas que se regem por estes princípios.
O que me chocou ainda mais foi a naturalidade com que os convidados acenavam com a cabeça, em modo de aprovação, enquanto o padre fazia esta leitura. Este texto é o espelho da sociedade patriarcal em que vivemos, que tanto discutimos nas nossas aulas e que está ainda tão presente no discurso publicitário contemporâneo. É absurdo, arcaico, promove a desigualdade de género e propõe à futura esposa que seja uma mulher "fraca e submissa" perante o seu marido — "Viviam submissas aos seus maridos, como Sara, que obedecia a Abraão, chamando-lhe seu senhor".
Não quero, com esta opinião, ferir susceptibilidades, mas apenas alertar para esta questão que hoje, em pleno século XXI, não faz qualquer sentido e que em tudo se enquadra naquilo que temos falado ao longo do semestre.


Ana Hermenegildo, 47982

3 comentários:

  1. Cara Ana ,
    Como colega e Católica gostava de dizer algo sobre essa mensagem que aos olhos deste século pode parecer chocante mas que contextualizada se torna intemporal, e essa mensagem é um testemunho de amor. Essa leitura foi apesar de vista com de Deus foi escrita por um homem que vivia numa sociedade e conhecia o seu contexto.
    Esse texto foi escrito há muitos séculos num tempo em que o contexto social estava muito longe do que conhecemos, como sabemos o homem era o líder da família e era este que a sustentava assim que quando a mulher casava ficava ao cuidado deste homem. Mas o que significa então neste caso concreto a palavra submissão? Nesta leitura específica esta submissão é uma forma de amor! E se isto parece não ter sentido pregunta, quem ama mais?, A mãe que ordena o seu filho ? Ou o filho que lhe obedece? Também aqui se não fosse contextualizada ,a palavra obediência seria antónima de liberdade, mas neste caso não, é a de uma escolha livre de amar. Neste caso Mãe/Filho apesar de o amor assumir papeis diferentes (pois também a mãe e o filho o são ) este amor é igualmente forte e para ambos requer escolha e esforço. Assim passando de novo para a leitura neste caso temos um homem que é diferente da mulher por natureza e, naquela época, por estatuto, que compromete-se a amá-la, protegendo-a, defendendo-a, sustentando-a e sendo sempre respeitador e atencioso com ela, por sua a vez a mulher ,diferente também por natureza e ainda mais pelo contexto social ,em que esta era bastante mais frágil, escolhe por esta submissão retribuir o seu amor, respeitando-o, agradecendo, aconselhando-o e seguindo-o nesta liderança de um projecto familiar que começa no matrimónio. Principalmente, e não espero que alguém não crente se interesse, esta leitura é muitas vezes comparada à relação de Cristo com a Igreja, a sua esposa, e esta pelo bem e por amor deve segui-Lo e Ele promete guiá-la, protegê-la e ama-a. Espero não escandalizar com esta forma de falar mas resumindo o que está em causa nessa leitura é que seja qual for a nossa condição, as nossas fragilidades e as nossas responsabilidades é com essas que devemos amar. Também no final podemos ler que homem e mulher devem estar unidos amar-se como iguais que são. Se tiveres curiosidade são imensas as leituras da bíblia começando por Génesis onde a Mulher posta como igual ao Homem pois apesar de diferentes unem-se na sua complementaridade. Devias saber também que as leituras de casamento são por norma escolhidas pelos noivos quando que conhecem o seu contexto e significado melhor.

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  2. Grata pelo esclarecimento, Carolina, e pela partilha e comentários, Ana.
    De facto, a 'Bíblia' é uma antologia de textos oriundos de vários contextos e escritos com finalidades diversas, reunindo desde conselhos sobre agricultura, a belíssimos poemas. Os cristãos consideram-na um livro sagrado; ou seja, ditado diretamente por Deus, pelo que a sua exegese (interpretação) foi, ao longo dos séculos, sujeita à orientação / censura da Igreja, que assim procurava garantir a sua hegemonia terrena.
    O excerto em questão, quer queiramos quer não, tem um travo amargo à estrutura patriarcal, sim, o que aponta para a história dos últimos dois mil anos no Ocidente e ainda para o tratamento desigual a que têm sido sujeitos os diferentes géneros por todas as igrejas do mundo. Entre nós, o legado do Catolicismo perpetua ainda, em muitos respeitos, parece-me, uma herança de desigualdade que será importante retificar.
    Estamos cá tod@s para, através da nossa vivência, ir criando novos modelos relacionais!

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