quarta-feira, 25 de março de 2020

Comentário 'Ways of Seeing' 1


Conforme combinado, deixo um modelo de resposta ao comentário sobre este episódio de Ways of Seeing, realizado por vós em sala de aula. Grata, Nilton pela reescrita tendo em conta as minhas sugestões.
 JONH BERGERWays of Seeing   (Episódio 1)     
 Fotograma do 1º episódio
                  O documentário pretende fazer-nos refletir sobre a arte – dum ponto de vista ocidental, mais precisamente europeu – compreendida entre o final do séc. XV e o início do séc. XX.
                  O modo como acedemos às obras relativas a este período é altamente inovadora, na medida em que para vislumbrá-las já não precisamos de nos deslocar às suas respetivas ´moradas´. Até ao advento da câmara fotográfica, ninguém havia visto estas obras como hoje podemos vê-las.
Assim como a perspetiva na representação pictórica foi inovadora, também estas novas perspetivas fornecidas pela imagem em movimento são. Esta ilusão de profundidade, conferida às representações realistas mediante o uso da perspetiva, permitiu um mimetismo absoluto da realidade. No entanto, é com o advento da câmara de filmar que o olhar humano adquire uma omnipresença até então impensável.  Há ainda uma série de inovações na maneira de apreender as imagens, a câmara mostra-nos a perspetiva de terceiros, revelando os múltiplos ângulos de um determinado objeto. Esta libertação da imagem que originou o derrube das fronteiras em que se encontrava confinada, assim como as barreiras do tempo, servia/serve para fornecer novas coordenadas interpretativas do mundo e consequentemente de nós mesmos. Podemos planar sobre determinada realidade como os pássaros, escolher e focar determinado ponto ou objeto para melhor o compreender, ou para melhor o caçar. A câmara muda não só o que vemos, mas a maneira como vemos.
De facto, tendo em conta o que acima foi exposto, nenhuma perspetiva pode ser entendida como verdadeira e total.
A pintura, ou as pinturas, só pode(m) ser captada(s) à vez, assim como só pode(m) estar expostas num lugar de cada vez. Porém, a reprodução destas imagens – mediante a câmara – torna-as disponíveis em qualquer dimensão, em qualquer geografia e para qualquer propósito.
Originalmente, as obras, tal como as nossas vidas eram destinadas a um determinado propósito; a sua/nossa função estava definida.
A Vénus de Botticelli apenas podia ser vista na sala em que se encontrava exposta, nos dias que correm esta obra pode ser vista por milhões de pessoas, em diferentes locais e ao mesmo tempo. Estas imagens são vistas dentro do contexto da nossa vida, com a nossa música, no nosso oikos, em suma, à nossa maneira.
As imagens vêm até nós, não há necessidade de nos deslocarmos até elas. Os dias de peregrinação acabaram. A imagem viaja do mesmo modo que Berger viaja até nós mediado pelo vídeo. O significado da pintura já não reside unicamente no suporte que a confina a um determinado lugar, e consequentemente a um determinado momento histórico. A imagem transformou-se em informação, os rostos das pinturas tornam-se mensagens passíveis de ser manipuladas e de manipular. No entanto, os originais continuam a ser únicos, pois são diferentes das reproduções que vemos nos postais, ou até mesmo filmadas na televisão.
Há, diante as obras de arte uma narrativa mistificadora que serve propósitos do ego de quem a descreve, ou propósitos económicos (o valor de mercado). Este valor depende inteiramente do facto da obra ser genuína, daí toda a necessidade que as instituições museológicas têm em aferir a autenticidade das peças que integram a sua coleção. Todos preferem ver a “Virgem dos Rochedos” de Leonardo da Vinci na National Gallery, visto que é essa a certificada, a autêntica. Contrariamente a esta narrativa mistificadora temos a análise das crianças, que interpretam as imagens de forma muito direta, relacionando-as com as suas expectativas pessoais.
                  Por fim, Berger lembra-nos que as imagens são portadoras de diversas narrativas que encerram em si múltiplas visões do mundo. As imagens são como as palavras, ou a música – esse conduto r emocional por excelência. Escolhemos as que melhor veiculam a nossa ideia, o nosso programa ideológico.   
 Nilton Fonseca (36955)

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