Conforme combinado, deixo um modelo de resposta ao comentário sobre este episódio de Ways of Seeing, realizado por vós em sala de aula. Grata, Nilton pela reescrita tendo em conta as minhas sugestões.
JONH BERGER – Ways of Seeing (Episódio
1)
Fotograma do 1º episódio
O documentário pretende fazer-nos refletir sobre a arte – dum ponto de
vista ocidental, mais precisamente europeu – compreendida entre o final do séc.
XV e o início do séc. XX.
O modo como acedemos às obras
relativas a este período é altamente inovadora, na medida em que para
vislumbrá-las já não precisamos de nos deslocar às suas respetivas ´moradas´.
Até ao advento da câmara fotográfica, ninguém havia visto estas obras como hoje
podemos vê-las.
Assim como a perspetiva na representação pictórica foi
inovadora, também estas novas perspetivas fornecidas pela imagem em movimento
são. Esta ilusão de profundidade, conferida às representações realistas
mediante o uso da perspetiva, permitiu um mimetismo absoluto da realidade. No
entanto, é com o advento da câmara de filmar que o olhar humano adquire uma omnipresença
até então impensável. Há ainda uma série
de inovações na maneira de apreender as imagens, a câmara mostra-nos a
perspetiva de terceiros, revelando os múltiplos ângulos de um determinado
objeto. Esta libertação da imagem que originou o derrube das fronteiras em que
se encontrava confinada, assim como as barreiras do tempo, servia/serve para
fornecer novas coordenadas interpretativas do mundo e consequentemente de nós
mesmos. Podemos planar sobre determinada realidade como os pássaros, escolher e
focar determinado ponto ou objeto para melhor o compreender, ou para melhor o
caçar. A câmara muda não só o que vemos, mas a maneira como vemos.
De facto, tendo em conta o que acima foi exposto, nenhuma
perspetiva pode ser entendida como verdadeira e total.
A pintura, ou as pinturas, só pode(m) ser captada(s) à vez,
assim como só pode(m) estar expostas num lugar de cada vez. Porém, a reprodução
destas imagens – mediante a câmara – torna-as disponíveis em qualquer dimensão,
em qualquer geografia e para qualquer propósito.
Originalmente, as obras, tal como as nossas vidas eram
destinadas a um determinado propósito; a sua/nossa função estava definida.
A Vénus de Botticelli apenas podia ser vista na sala em que
se encontrava exposta, nos dias que correm esta obra pode ser vista por milhões
de pessoas, em diferentes locais e ao mesmo tempo. Estas imagens são vistas
dentro do contexto da nossa vida, com a nossa música, no nosso oikos, em suma,
à nossa maneira.
As imagens vêm até nós, não há necessidade de nos
deslocarmos até elas. Os dias de peregrinação acabaram. A imagem viaja do mesmo
modo que Berger viaja até nós mediado pelo vídeo. O significado da pintura já
não reside unicamente no suporte que a confina a um determinado lugar, e
consequentemente a um determinado momento histórico. A imagem transformou-se em
informação, os rostos das pinturas tornam-se mensagens passíveis de ser
manipuladas e de manipular. No entanto, os originais continuam a ser únicos,
pois são diferentes das reproduções que vemos nos postais, ou até mesmo filmadas
na televisão.
Há, diante as obras de arte uma narrativa mistificadora que
serve propósitos do ego de quem a descreve, ou propósitos económicos (o valor
de mercado). Este valor depende inteiramente do facto da obra ser genuína, daí
toda a necessidade que as instituições museológicas têm em aferir a
autenticidade das peças que integram a sua coleção. Todos preferem ver a
“Virgem dos Rochedos” de Leonardo da Vinci na National Gallery, visto que é
essa a certificada, a autêntica. Contrariamente a esta narrativa mistificadora
temos a análise das crianças, que interpretam as imagens de forma muito direta,
relacionando-as com as suas expectativas pessoais.
Por fim, Berger lembra-nos que
as imagens são portadoras de diversas narrativas que encerram em si múltiplas
visões do mundo. As imagens são como as palavras, ou a música – esse conduto r
emocional por excelência. Escolhemos as que melhor veiculam a nossa ideia, o
nosso programa ideológico.
Nilton Fonseca (36955)
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