Nas últimas aulas, temos vindo a abordar algumas das questões centrais da sociedade contemporânea, nomeadamente a nossa convivência diária e constante com a publicidade, e também a velocidade a que o nosso mundo está a evoluir, especialmente a nível tecnológico.
Quando lemos Nicholas Mirzoeff, vimos como a nossa sociedade é cada vez mais digital e, acima de tudo, visual. O autor insiste bastante na questão da velocidade de alteração do planeta Terra, questionando os caminhos que estamos a seguir enquanto coletivo. Para mais, aborda uma ideia que me remeteu imediatamente para um livro que prezo muito (e de que irei falar em seguida) - o modo como a industrialização alterou a nossa relação com o tempo se alterou, tornando-nos uma sociedade cada vez mais acelerada, consumista e insatisfeita. Estamos, à falta de melhor expressão, presos num ciclo vicioso: trabalhamos cada vez mais horas, para obter poder de compra, somos expostos a publicidade constante que nos faz sentir inferiores, e nos leva a consumir e voltamos ao início.
Além disso, como referimos hoje em aula e podemos ler nos textos de Naomi Klein, o que as marcas cada vez mais nos vendem são modos de vida, são ideias. Somos constantemente bombardeados por imagens, a uma velocidade estonteante. Hoje em dia, não só na publicidade, mas também nas redes sociais, em vídeos, música, é só escolher...
O autor que vos trago hoje, Matt Haig, começou a interrogar-se de que modo é que esta construção social estava a afetar a nossa saúde mental. Em Notes on a Nervous Planet, o autor reflete sobre a maneira como diferentes aspetos do mundo em que vivemos estão a aumentar os níveis de ansiedade da população mundial.
Este livro trata a experiência do próprio autor, que em livros anteriores tinha explorado a sua experiência com depressão e ansiedade. Nele relata um momento em que teve uma recaída no seu processo de aprendizagem de lidar com estas doenças, durante o qual procurou perceber quais os elementos do seu estilo de vida que contribuíam para se sentir pior. Nisto, começou a perceber alguns padrões que se aplicavam não só à sua experiência, mas a uma experiência a nível global.
Num estilo de escrita episódico, vai retratando alguns temas que nos estão a manipular e a tornar mais ansiosos, tais como: imprensa e telejornais com manchetes sensacionalistas; a globalização da informação através da internet, que proporciona uma conectividade constante, mas que simultaneamente, nos bombardeia com mais informação do que aquela com que estamos equipados para lidar; a normalização de comportamentos aditivos, nomeadamente no uso das redes sociais; o excesso de trabalho e a diminuição do tempo pessoal e de descanso; a perpetuação de ideais irrealistas sobre a nossa vida e a nossa imagem.
Na base de todas estas ideias, está uma crença que atravessa as suas obras, a ideia de que o nosso legado cartesiano — que nos leva a conceptualizar a mente como estando separada do corpo, regulando-nos pela máxima "Penso, logo existo" — não é necessariamente a resposta para todas as questões, pois existem ligações profundas entre o nosso corpo e a nossa mente. Por esta mesma razão, o seu trabalho vai sempre no sentido de normalizar as doenças do foro psicológico e clarificar o estigma em seu redor. Fazendo-o por vezes com muito humor, como é o caso desta página que vos apresento:
A grande conclusão de Matt Haig — relacionada com uma citação de Mirzoeff, no final do texto estudado ("what once took centuries, even millenia, happens in a single human lifetime") — é que a evolução estonteante da nossa sociedade a nível cultural e tecnológico (pensemos que grande parte do chamado primeiro mundo em que habitamos se desenvolveu maioritariamente durante os últimos dois milénios, se tanto) convive com um ser humano incapaz de se desenvolver do mesmo modo a nível biológico, durante esse período. Ou seja, os nossos cérebros e os nossos corpos não estão ainda preparados para saberem conviver com o mundo atual.
Deixo-vos ainda um vídeo em que Haig discute o livro, para o canal BBC, caso tenham curiosidade em ouvi-lo discutir estes assuntos.
Ainda que acreditemos estar a evoluir, ainda que a raça humana se continue a adaptar, podemos fazer várias pergunta: Em que direção estamos realmente a evoluir? Será que estamos a criar um futuro sustentável, para os nossos corpos e para a terra? Como nos estamos a relacionar com a tecnologia e com o mundo, e quais as consequências que estas relações terão na nossa vida a longo prazo?
Espero que tenha aguçado a vossa curiosidade para explorarem este autor, que vos recomendo imensamente!
Resto de boa noite e até sexta feira,
Leonor Madureira 150360
Grata pela partilha deste "seu" autor que me desperta também alguma curiosidade já há algum tempo... quem sabe lhe peço um livro emprestado, um destes dias, Leonor.
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