Boa tarde,
Na minha opinião, o Sistema de Educação em Portugal tem sido o mesmo desde o tempo do Marquês de Pombal. No caso do Reino Unido, pode-se dizer também que o modelo é o mesmo desde a época vitoriana.
A falta de atenção ao carácter único de cada aluno é evidente. O modelo de produção desde a Revolução Industrial espelha-se no Sistema de Educação.
O famoso rapper Prince EA fez um grande vídeo ativista sobre este mesmo problema!
Para quem ficare interessado em conhecer alternativas, convido-vos a ver um post sobre a Green School, de John Hardy, que publiquei no nosso blogue no ano passado.
Obrigada à professora Diana por lecionar esta disciplina fabulosa.
Carolina Mora (ex-aluna).
Olá, Carolina,
ResponderEliminarDesculpa, mas não entendo o que queres dizer quando escreves «o Sistema de Educação em Portugal tem sido o mesmo desde o tempo de Marquês de Pombal». Onde estão as fontes dessa informação? É que eu sou daqueles que não sabe disso, pelos vistos. Porque, pelo que sei - e por documentos que li e por ter falado com pessoas que estiveram envolvidas nesse processo - houve uma reforma do ensino após o 25 de Abril de 1974 - que foi bastante grande e que, no entanto, foi bastante diferente do ensino que temos hoje. E antes do 25 de Abril, tivemos outras grandes mudanças, como a introdução das escolas republicanas ou como o fim da separação de género. E o que dizer do retrocesso que foi o ensino durante o Estado Novo? Para não falar das escolas modernas e alternativas que existiram desde, pelo menos, o século XIX. Tantas mudanças e transformações. Aliás, duvido que a escola no tempo de Marquês de Pombal fosse aberta a todas as pessoas de todas as classes sociais.
Em relação ao vídeo, é interessante, sim. E posso concordar com várias ideias que são expressas (como a questão da criatividade e dum ensino adaptado às necessidades e vontades dos estudantes), mas é francamente demagógico e contraditório. É que defender um ensino diferente num tribunal tão parecido com a escola, é pouco sério.
Abraços,
YP
Olá, Youri,
EliminarQuando digo que o sistema de educação português é o mesmo desde o séc. XVIII, refiro-me ao modelo de ensino: maior importância à teoria (com o sistema expositivo de matéria), ao invés do "know-how". Continuamos a produzir máquinas ou papagaios, sem que, contudo se dê importância às competências (que serão necessárias no mercado de trabalho) e aos interesses do aluno.
Aqui está um excelente artigo publicado pela Universidade de Lisboa (Vê a partir da pág. 26, é o que importa): http://repositorio.ul.pt/jspui/bitstream/10451/4810/1/9789724142142.pdf
Cumprimentos,
Carolina.
Carolina,
EliminarMas o sistema de educação português não é o mesmo desde o século XVIII. Primeiro, porque as matérias e o conhecimento eram muito diferentes e, em segundo lugar, porque a pedagogia mudou muito. Não é, sequer, comparável, embora se possa analisar a História do ensino português.
Mas o que referes não é propriamente um modelo: maior importância à teoria (que é importante), em vez da prática. Ora, isso pode ser feito dentro de modelos diferentes.
Que muita coisa está mal no ensino, estou de acordo. Penso é que divergimos nas críticas (e divirjo bastante de algum facilitismo teu nessa crítica).
Em relação ao artigo do Sampaio da Nóvoa, que não li todo, só dei uma vista de olhos, ele começa por enquadrar - teoricamente - o ensino na História de Portugal. O que ele escreve, é o seguinte: «Mas – e este é o ponto que importa sublinhar – consolida-se, nesta segunda metade do século XVIII, uma determinada forma de intervenção do Estado na educação que, no essencial, não se alterará até aos dias de hoje. Passado o período conturbado do início do século XIX, o Liberalismo vai reencontrar grande parte da herança pombalina, mas já enriquecida pelos debates da Revolução Francesa, em particular pela exigência de um ensino gratuito, laico e obrigatório.» (p. 27). Ele não diz que o sistema de educação é o mesmo desde o século XVIII, mas que a intervenção do Estado no ensino, particularmente a exigência dum ensino gratuito, laico e obrigatório.
De resto, parece-me que Sampaio da Nóvoa faz uma crítica à evolução do sistema de ensino, a vários problemas nunca resolvidos, etc. Mas vai apontando, precisamente, várias diferenças.
Viva, Carolina e Youri, grata pela vossa empenhada discussão que só agora tenho oportunidade de seguir (dando-vos feedback por email, como verão). Grata também pela bibliografia extra sobre esta questão, Carolina; o livro está organizado de um modo muito criativo e, como é um tópico do meu interesse, já fiz download para consulta futura.
ResponderEliminarConcordo que a Carolina expõe o seu argumento de um modo algo simplista, pois se há alguns pressupostos sobre o ensino que ainda se mantêm em vigor desde há demasiado tempo, muito há de diferente hoje. Podemos pensar nos manuais escolares como uma das componentes mais visíveis das chamadas tecnologias da educação — comparando manuais do Ensino Básico (denominado Primário) do Estado Novo, da década de 1980 e da contemporaneidade, por exemplo, vemos muitas diferenças, nomeadamente a nível da interatividade e da valoração de diversos tipos de textualidade (desde ilustrações a esquemas, fotografias ou links para sites e vídeos, além do tradicional texto verbal). Claro que, em termos filosóficos, muito há por e para fazer, com o empenho de todos nós, pois, sobretudo a nível do Ensino Superior, os alunos têm a sua quota de responsabilidade no modo como as aulas decorrem, já que as escolhas de lerem (ou não) a bibliografia e de participarem (ou não) nas discussões promovidas em sala de aula podem (ou não) contribuir para uma alteração radical do sistema, que é feito por todos nós a cada dia.
O Jacques Rancière tem uma interessante discussão sobre práticas pedagógicas e seus pressupostos ideológicos em 'O mestre ignorante', editado pela Orfeu Negro numa belíssima tradução.
Ah! E não esqueçamos também o contributo precioso das escolas alternativas! Penso na pedagogia Waldorf ou no movimento da Escola Moderna, entre outros exemplos em ação no nosso país.
ResponderEliminarMesmo durante o Estado Novo houve escolas diferentes. Muitos filhos de anti-fascistas estudaram, por exemplo, no Liceu Francês, evitando assim a propaganda salazarista. E mesmo no início do século XX, existiam escolas alternativas ligadas ao republicanismo ou ao anarquismo. Um pedagogo importante, nesse aspecto, foi o catalão Francesc Ferrer - tenho um amigo que o estudou a fundo, poderá intervir num debate sobre o assunto.
ResponderEliminarHá uns meses estive a ler documentos da Comissão da Reforma Educativa no pós 25 de Abril de 1974, que tentava, mesmo que provisoriamente e apressadamente, expurgar o fascismo dos programas do ensino. Muito do que se pensou fazer ficou pelo papel - como a abolição da Religião Moral -, mas foi nessa altura que foram criadas as disciplinas de Educação Visual e de Música. Num relatório, de 1975, Comissão Coordenadora dos Textos de Apoio, que criou uma série de textos sobre vários assuntos - como política, de que antes não se podia falar nas escolas -, pode-se ler que «Na sua [da Comissão] ambição última, haveria o desígnio latente de preparar uma futura substituição do manual por instrumentos e métodos de trabalho que ajudassem a abolir toda a técnica de ensino passiva e rotineira».
Mesmo que muitas destas ideias tenham voltado para trás, deixaram as suas sementes. Abandoná-las não é responsabilidade exclusiva do poder político, mas também dos professores, dos estudantes e dos pais.
Penso que o ensino não possa ser pensado sem pensar no mundo em que vivemos. O capitalismo atravessa todas as questões sociais e a sua influência no ensino, bem como em todos os aspectos da nossa vida, é enorme. No entanto, aqui e acolá, há casos de resistência e de alternativas - a Escola da Ponte, mesmo fazendo parte do ensino público, é exemplo disso (http://www.escoladaponte.pt/descricao.html).
Grata pela informação extra, Youri, e por sublinhar a responsabilidade partilhada por todos nós para mudar (ir mudando) o sistema.
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