A nossa aula da passada quarta-feira, dia
13 de março, despertou em mim uma sensação que, infelizmente, já antes senti, pois tivemos a oportunidade de levar com uma lufada de realidade
que nos despertou para as questões da representação do género nos anúncios
publicitários. A conversa e as questões que tivemos evocaram em mim o momento em
que me apercebi o quão sexista, violenta e nojenta a publicidade consegue ser quando
se aproveita de mulheres e as torna num objeto descartável, numa mercadoria, num
boneco.
Foi no primeiro semestre deste ano letivo
de 2019 que uma outra professora da nossa faculdade me despertou para
a gravidade da violência contra o corpo da mulher. Por se tratar de uma professora
italiana, a publicidade que aqui vou reproduzir é italiana; contudo, como vimos na aula,
em Portugal também circula este tipo de lixo.
Os textos publicitários que se encontram
neste post vão desde a perpetuação
de estereótipos de género, relativamente às funções sociais que as mulheres desempenham, por exemplo,
até à comparação da mulher com um animal, demonstrando quão maltratadas somos na nossa sociedade.
Nos dois textos acima, que são para publicitar
a mesma empresa de serviços, é feita uma comparação entre a mulher do início do
século XX e a mulher de hoje. O intuito desta empresa é publicitar a energia elétrica,
equivalendo, por isso, à nossa EDP, pelo que o que a publicidade transmite é que
a mulher mudou de energia, mas continua a ser a mesma, estando escrito no cartaz
“a energia muda, mas a história é sempre a mesma”. Neste anúncio há claramente uma
perpetuação do estereótipo de que a função da mulher é fazer as tarefas domésticas,
servindo o homem. Note-se que ao contrário das próximas publicidades, nesta as mulheres
apresentadas são já pertencentes a uma faixa etária elevada, possivelmente entre
os 65-80, ao contrário das próximas, em que são todas jovens, dando a entender que, quando idosa, a mulher serve o homem nas tarefas domésticas, mas enquanto jovem serve-o
sexualmente.
Para além disso, o discurso publicitário incentiva também à violência contra a mulher. Num anúncio de panos,
como o de cima, a ideia é que a qualidade do produto é tal que este consegue limpar até os vestígios
de um ato de violência sexual, provavelmente uma violação. Este tipo de comportamentos é não só desculpado, como também incentivado, validado pelas narrativas implícitas na publicidade, tal como mostra o seguinte exemplo de uma campanha que se tornou muito polémica por glamourizar o gang rape.
Nos exemplos seguintes, a mulher é comparada
a um animal que se encontra embalado, na primeira foto, e cozinhado, na segunda imagem.
No primeiro anúncio é publicitado um serviço que nada tem que ver com a mulher e
esta não só é colocada como cara deste anúncio como é violentamente comparada a um bife pronto a ser consumido. No segundo caso,
que publicita um restaurante, a imagem da mulher é equiparada à de um porco no forno,
o que, a menos que o restaurante venda carne humana, é completamente ridículo e lamentável.
Porém, a ideia mencionada na aula de que a mulher serve para "ser comida" não se fica por aqui. Nos três anúncios publicitários abaixo, os produtos alimentares encontram-se não só posicionados em zonais genitais, como ainda por cima vendem a ideia de que o produto é tão bom, saberá tão bem como fazer sexo. O iogurte encontra-se junto às nádegas da mulher, que são comparadas a fruta. O gelado promove-se como se de seios se tratasse e o vinho é para ser degustado como se fosse uma vagina. A forma como a mulher, que raramente tem um rosto, é retirada da espécie humana, e representada como um mero corpo de prazer é escandalosa.
Além do uso violento e repugnante do corpo da mulher, promovendo o abuso
sexual do corpo feminino, também se denigre a imagem da mulher
enquanto ser reprodutor, que menstrua, através do símbolo de uma companhia cinematográfica conhecida por ter como símbolo
um leão (a Metro Goldwyn Mayer). Neste caso o anúncio pretende demonstrar que uma mulher menstruada se torna uma fera indomável, com o objetivo de vender
um alívio para a dor, ou seja, um meio de a mulher ser dominada.
Enquanto mulher, este tipo de texto publicitário
revolta-me, choca-me e deixa-me imensamente desconfortável. Efetivamente, não acredito que tenha de ser a única pessoa a fazer as tarefas domésticas, não me considero um
mero objeto sexual ao serviço do prazer masculino, não sou um animal pronto a comer nem gosto de ser dominada, desrespeitada e abusada.
A perpetuação do machismo tóxico na nossa sociedade é gritante, está ao nosso redor,
debaixo dos nossos narizes todos os dias e nós não temos
de aceitar este tipo de textos. Na Itália, pelo que me recordo da apresentação da
professora, as mulheres aceitam e consideram este tipo de texto normal, não vêm os
problemas deste tipo de texto. Felizmente em Portugal, este tipo de representação não é tão explícito; no entanto, as representações sexistas da mulher persistem. Cabe-nos a nós mulheres, dizermos basta!
Resto de um bom dia, até amanhã!
Resto de um bom dia, até amanhã!
Micaela
Henriques Nº153621
Muito grata pelo seu excelente post, Micaela (tomei a liberdade de retirar algumas das suas repetidas expressões de indignação, porque neste tipo de empenho feminista, a análise deve manter-se focada no objeto, devendo bastar para mover consciências).
ResponderEliminarPartilho aqui alguns outros posts do nosso blogue que lidam com questões semelhantes:
http://culturvisflul.blogspot.com/2016/05/american-apparel.html
http://culturvisflul.blogspot.com/2016/05/boa-tarde-todos-encontrei-este-articolo.html
http://culturvisflul.blogspot.com/2016/03/boa-noite-pessoal-sobre-o-papel-da.html
Já agora, partilho também um outro post em que uma vossa colega propõe uma análise brilhante de uma campanha da Nestlé para crianças
ResponderEliminarhttp://culturvisflul.blogspot.com/2014/05/caros-colegas-enquanto-procurava.html
E não resisto a deixar a versão egípcia desta campanha que, curiosamente, reparo agora ao voltar a pesquisá-la, está a ser sistematicamente apagada da internet, talvez por a Nestlé ter recebido críticas quanto ao seu sexismo descarado.
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