sábado, 9 de maio de 2015

Análise do excerto de John Berger

Análise do Excerto de John Berger

Neste excerto de Ways of Seeing, John Berger começa por  afirmar e exemplificar que a visão surge anteriormente ao desenvolvimento da linguagem verbal, assim como a criança é capaz de percepcionar o mundo que a rodeia e expressar-se em relação a este antes de conseguir descrevê-lo. Será seguro entender que a visão de que aqui se fala é a visão como sentido físico e também como percepção das realidades do mundo.
Seguindo o exemplo da criança, é possível afirmar que Berger  sustenta a noção de que, por muito que tentemos explicar e categorizar aquilo que nos rodeia, essa tentativa de descrição fica aquém do alcance da visão. John Berger defende, assim, que, no próprio momento em que escolhemos aquilo para que olhamos, condicionamos a pluralidade de realidades que a nossa própria visão potencia. E a visão, distinguindo-se dos outros sentidos, constrói uma relação física de longo alcance e periferia com o objecto, o que por si só constitui um distanciamento que nos abstrai da realidade do mesmo. Isto é, se um ser alienado e cego agarrasse numa pedra de sal, por exemplo, ia senti-la, cheirá-la, saboreá-la, até ouvi-la tal como ela é, sem nomes e sem significados artificiais. A forma como interpretamos o objecto  que observamos é por si só condicionada pelos nossos preconceitos individuais e culturais.
Desta forma, como James Elkins propõe em The Object Stares Back, o objecto da nossa visão relaciona-se connosco na medida em que o(s) significado(s) que lhe é/são por nós atribuído(s), conscientemente ou não, é/são imediatamente reflectido(s) em si, projectando a mensagem de volta para nós e agarrando-nos dessa forma monovalente que nos atrai pela familiaridade do significado.
Esta familiaridade é possivelmente explicada pela existência de uma gramática visual empírica. David Machin, em Introduction to Multimodal Analysis, sistematiza  e define traços que permitem descodificar esta gramática. Trata-se de uma ferramenta urgente, no contexto contemporâneo de hegemonia da imagem, face à quantidade sem precedentes de imagens na qual certos códigos visuais são instrumentais para a manipulação ideológica. É talvez importante não esquecer que esta gramática é uma construção artificial intrínseca à nossa cultura e talvez num plano mais abrangente e relativo, à nossa espécie. (Porém, o mundo visto pelos olhos de um cão não é menos verdadeiro do que o mundo visto pelos nossos olhos). 
          Face às noções apresentadas, é possível afirmar que a nossa percepção do objecto é absolutamente condicionada pela relação do objecto consigo mesmo, com os elementos que o compõem, pelos elementos que o rodeiam e com os elementos alojados no nosso saber enciclopédico. Ou seja, o contexto e o co-texto são determinantes na análise do texto/objecto desta gramática visual.


Bibliografia:
BERGER, John. Ways of Seeing (2008). Londres: Penguin.
ELKINS, James. The Object Stares Back (1997). San Diego, Nova Iorque, Londres: A Harvest Book Harcourt, Inc.
           MACHIN, David. Introduction to Multimodal Analysis (2010). Londres: Bloomsbury.


Análise do excerto de John Berger proposta pelo aluno André Pereira com correcções e ajustes da professora Diana V. Almeida.

1 comentário:

  1. Grata, André! Como disse, julgo ser importante partilhar modelos de resposta que exemplifiquem estratégias de análise de texto, pois o meu objetivo fundamental como professora é dar-vos instrumentos de leitura do mundo (e dos seus vários textos).

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