Boa noite.
Encontrei uma notícia do ano passado que tem muito a ver com os temas que temos
tratado nesta cadeira.
A marca de
cerveja brasileira Devassa foi alvo de um processo administrativo instaurado
pelo Ministério da Justiça depois de apresentar um anúncio publicitário cujo slogan “É
pelo corpo que se conhece a verdadeira negra” foi o motivo da denúncia. O slogan era relativo à bebida
Devassa Tropical Dark e foi considerado ofensivo não só pelo seu carácter racista,
mas também devido à hipersexualização da mulher negra. O diretor do
Departamento de Protecção e Defesa do Consumidor, Amaury Oliva, declarou o seguinte — “Na
sociedade de consumo, a publicidade é um indicativo do padrão ético adoptado
pelas empresas para a oferta de produtos e serviços. Não se pode admitir que
para vender um produto, sejam utilizadas mensagens discriminatórias, que
reforçam estereótipos de género e étnico-raciais e contribuem para aprofundar
desigualdades”.
Procurei notícias sobre o desenvolvimento deste
processo que começou em Outubro do ano passado e não encontrei nada, pelo que
não sei dizer como acabou isto ou se acabou de facto. Esta iniciativa pareceu-me boa
para alertar os consumidores que eles também têm poder e, ao contrário do que se
pensa, não são passivos em relação ao discurso publicitário, feito para um determinado público alvo. Se há mensagens discriminatórias a reforçar
estereótipos, sejam de que tipo forem, é não só porque a marca quer usá-los, mas
também porque o consumidor está aberto a eles e o facto de a marca os usar potencia
ainda mais essa abertura, o que se repete num ciclo vicioso que só o consumidor pode quebrar. No entanto, é já significativo o facto de não haver mais notícias sobre o seguimento deste caso...
Maria de Oliveira
De facto, é escandaloso o modo como a indústria publicitária continua a repetir padrões discriminatórios, piscando o olho a uma imensidade de consumidores "pouco sofisticados" (para usar um eufemismo). Sim, é fulcral lermos estes convites com um olhar consciente, para podermos boicotar marcas racistas, xenófobas, homofóbicas, sexistas... e eventualmente protestar junto das corporações com mentalidade reacionária.
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