quarta-feira, 15 de abril de 2020

Análise de texto_Resposta-modelo 2


Neste trabalho será analisado um excerto da obra Ways of Seeing, publicada em 1972, baseada no programa televisivo homónimo, de John Berger. O excerto em análise pertence ao sétimo capítulo do livro, dedicado ao discurso publicitário e à sua influência na sociedade contemporânea.
            O autor relaciona o discurso publicitário com o sistema económico no qual se insere - o capitalismo, caracterizado pela propriedade privada dos meios de produção e pela sua utilização com fins lucrativos, podendo o seu início ser datado após a rotura com o feudalismo. Já na segunda metade do Século XX, o neoliberalismo, designação baseada no modelo capitalista Laissez Faire do final do século XIX, ganhou poder sobre as então prevalentes políticas económicas Keynesianas, com a eleição de Margaret Thatcher e Ronald Reagen, no Reino Unido e nos Estados Unidos da América, respetivamente. Atualmente, a nível global predomina a economia neo-liberal, caracterizada pela baixa intervenção do Estado na economia, o que tem não só impactos negativos a nível social, mas também a nível ambiental. Em Talking to My Daughter About the Economy: A Brief History of Capitalism, Yanis Varoufakis relata como, com o avançar das sociedades capitalistas e de livre mercado, houve um aumento do valor de troca dos bens e serviços, em detrimento do seu valor experiencial. O autor chama a este processo de “mercantilização”, descrevendo-o como “the unstoppable victory of exchange value over experiential value (...)” (34). Esta “mercantilização” é promovida  através do discurso Publicitário, que nos rodeia diariamente. Quer seja através de mupis, ou da Televisão e da Internet, é estimado que sejamos expostos a cerca de 3000 anúncios por dia, de acordo com o documentário Story of Stuff, realizado em 2009.
A Publicidade tem um e um único objetivo - vender um produto ou serviço. No entanto, como diz John Berger no 4º episódio de Ways of Seeing: “The things publicity sells are in themselves neutral, just objects and so they have to be made glamorous by being inserted into contexts”. De facto, uma coisa é vender um frasco que contém 100 ml de um líquido odorífico, outra é vender um pedaço de masculinidade/feminilidade que irá garantir a atração do sexo oposto. O primeiro é o produto em si, que podemos adquirir numa loja; o segundo, é a ideia, o sonho que a Publicidade nos quer transmitir e vender.
Basta ver qualquer anúncio a um perfume que rapidamente se percebe que o que estão a vender não é o perfume em si, mas uma vida alternativa em que somos e estamos rodeados de pessoas mais atraentes em ambientes luxuosos. A publicidade, diz-nos John Berger, é o processo de criar glamour (131).  Este glamour apela aos desejos profundos do ser humano, como os de serem felizes, aceites e amados por aqueles que o rodeiam. O discurso publicitário propõe que mudemos as nossas vidas através da compra do produto que promove (idem). Assim, torna o espectador insatisfeito com a sua vida atual e sugere-lhe que se comprar o que estão a oferecer, a sua vida será melhor. O discurso publicitário utiliza apelos emocionais, por oposição a à racionalidade, e utiliza técnicas de storytelling, criando uma narrativa à volta do produto que vende. São estas narrativas e glamour que fazem os consumidores seguirem a sua mensagem, isto é, comprarem.
Concluindo, todas as empresas têm um objetivo - ter lucro. Para isso precisam de vender, sendo a publicidade o que liga a empresa ao consumidor. Sem publicidade não venderiam, o que significa que iriam à falência. Daí John Berger declarar: “Publicity is the life of this culture – in so far as without publicity capitalism could not survive” (154).

Bibliografia
Berger, John, Ways of Seeing. Londres, Penguin Books, 2008.
Varoufakis, Yanis. Talking to My Daughter About the Economy: A Brief History Of
Capitalism. Londres, Penguin Random House Uk, 2013.

Eduardo Letria

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