Estamos a chegar ao fim, e queria refletir um bocadinho sobre algumas coisas essenciais que debatemos ao longo deste semestre. Assim, vou partilhar uma curta vencedora de um Óscar e premiada também no Festival de Cannes, cujo título é Logorama (2009). De modo resumido, o filme representa um universo utópico, no qual Los Angeles se transformou numa sociedade completamente dominada por marcas e produtos. Trata-se de uma história que a princípio nos parece completamente absurda, pela sua violência e excesso — no entanto, se pensarmos no habitual filme de Hollywood apercebemo-nos de que não é assim tão diferente, trata-se apenas, aqui, de um olhar irónico e crítico.
Este filme reflete sobre duas questões que são de importância máxima para o que temos vindo a discutir ao longo do semestre, nomeadamente a hegemonia visual da publicidade no espaço-tempo contemporâneo. Naomi Klein desconstrói esta espécie de monopólio do branding que se tem vindo a generalizar na sociedade atual. Também John Berger declara que a publicidade incentiva ao consumo mediante a criação de infelicidade e de inveja no consumidor, sugerindo que deverá consumir/possuir para ser alguém, definindo-se enquanto indivíduo mediante a identidade que a marca providencia. Como discutimos ao longo do semestre, em última instância, isto retira-nos o agenciamento individual, tornando-nos meros consumidores.
Podem ler aqui um artigo sobre Logorama, cujo trailer vos deixo.
A segunda questão que quero explorar é o alerta deixado por este filme para um outro poderoso veículo ideológico — a indústria fílmica de Hollywood, e o modo perpetua uma série de estereótipos e representações que, mais uma vez, nos retiram a possibilidade de agir no mundo sem estarmos povoados por estas expectativas irrealistas e idílicas do que é a vida. Remeto-vos igualmente para um outro filme, Romantic Comedy, este de 2019, realizado por Elizabeth Sankey, que explora exatamente estas questões, abordando para isso o universo das comédias românticas e, especialmente, a representação da mulher e do homem nas mesmas. Podem ver igualmente o trailer abaixo.
Neste sentido, podem entender que mesmo estando estes filmes separados por um espaço de dez anos, as preocupações dos realizadores são essencialmente da mesma ordem — ambos remetem para um olhar crítico sobre dois veículos ideológicos que controlam os indivíduos, espartilhando-os com as suas idealizações, exigências e expetativas.
Apesar disto, não estamos num mundo sem esperança. Existirem autores que nos convidam a refletir sobre estas questões, é prova disto — de um modo geral, a mensagem que podemos retirar daqui, para a nossa vida futura, será sempre, estejamos atentos de modo a desenvolvermos o nosso próprio olhar. Levantemos questões Procuremos informação e sejamos críticos em relação ao que vemos, desconstruindo o mundo ao nosso redor. E continuemos a construir o nosso modo de ver, para que seja o mais completo e o mais justo possível, face ao mundo que temos e às possibilidades que se encontram ao nosso dispor, para nele agirmos.
Obrigada por lerem, continuação de bom percurso académico a todos, e bom descanso!
Leonor Madureira (150360)
Pergunto-me, Leonor, até que ponto esta distopia em forma de animação está assim tão distante do design do nosso espaço urbano e social contemporâneo, marcado pela ubiquidade de logótipos, tanto nas fachadas dos edifícios, como nas roupas e nos acessórios que usamos... Quanto ao segundo filme, trata-se de um documentário?
ResponderEliminarSim, não estamos realmente tão longe assim deste espaço distópico - e penso que tenderá a piorar com o avançar do tempo, se o modo como a publicidade e as marcas se estão cada vez mais a apoderar da nossa vida e a manipular as definições da nossa identidade (a respeito disso, partilho uma ocorrência com a qual me deparei esta semana, indicativa, penso, do nível a que isto já chegou: aparentemente já é normal tatuar-se marcas no corpo, a julgar pela tatuagem mais recente que uma amiga minha vez, com o logótipo da Nike)
EliminarQuanto ao segundo filme, é um vídeo-ensaio!
Grata pela resposta!
Leonor Madureira