O
mundo consumista está, na sua íntegra, à mercê da publicidade. A omnipresença
da publicidade nos setores público e privado, e na própria vida humana, é
inegável. A sua influência e impacto constatam-se a nível global.
Vivemos
na era da imagem. Atualmente, a publicidade é o tipo de imagem (e até mensagem)
que mais observamos no nosso dia a dia, em especial nas grandes cidades.
No
capítulo “The Branding of Learning”, incorporado na obra No Logo, Naomi Klein reitera que, em tempos passados, a escola era
o único local imune ao branding.
Contudo, na década de 1980, intentou-se uma transição de carácter negativo: as marcas e a
publicidade procuraram invadir o ensino e transformar-se num statement para os adolescentes rebeldes.
Nesta época, emergiu o “ciberespaço”, um tipo de comunicação entre os seres humanos que não recorre à presença física, mas a um espaço virtual constituído por
redes.
Perante
estes factos, destaca-se o argumento central da autora, que reconhece e
culpabiliza as grandes corporações – multinacionais que se consolidaram nos anos 1980 –,
juntamente com a tecnologia, de serem o fio condutor através do qual as marcas conquistaram
e se apoderaram dos estabelecimentos de ensino. Derrubou-se assim a fronteira
entre a publicidade e as escolas. Na
década de 1990 esta tentativa de invasão logrou, finalmente, resultados. Conforme
a tecnologia era alvo de um processo de melhoramento – invenção da digital videotape e início do
crescimento da utilização da Internet – o ensino público sofria cortes
orçamentais profundos. Esta situação traduzia-se na necessidade e na
incapacidade de as escolas financiarem a compra de altas tecnologias.
Na prática, o dinheiro é apresentado como algo mágico que compra todos os nossos desejos
básicos. Assim, os custos de uma educação modernizada aumentaram abrutamente e as
instituições de ensino viram-se obrigadas a procurar alternativas.
Consequentemente, para além de desviarem dinheiro de atividades
extracurriculares, escolas e faculdades abriram portas ao setor privado (às
corporações). O intuito destas parcerias seria receber lucro proveniente da publicidade
feita a marcas. Para além de beneficiar as escolas, a publicidade designa um
meio competitivo que beneficia a própria economia nacional, por meio da alimentação do modelo capitalista.
Se pensarmos na razão de o espaço escolar ser tão cobiçado pelas corporações, chegarmos a uma
conclusão dececionante: crianças e jovens são o público-alvo predileto das
grandes marcas. Quanto menor a idade, maior a vulnerabilidade perante a
“retórica publicitária”.
Os
jovens, por um lado, ainda não têm capacidade para interpretar e filtrar a
intenção oculta da publicidade e, por outro lado, ainda não possuem uma
identidade bem definida. A publicidade ataca os jovens e aproveita-se da
cegueira e da ignorância destes para lhes incutir a necessidade absurda de consumir produtos que irão melhorar as suas vidas e ajudá-los a ultrapassar o árduo
período de formação do “eu”, segundo as promessas.
As
corporações procuram vender não os seus produtos, mas sim as suas marcas (branding). Ora, um adolescente que
pretende ser cool e popular deverá
vestir-se com roupa de marca, pois quanto mais
reconhecido for o logotipo, melhor será a marca. Os produtos podem ter a mesma
qualidade, mas se um for de uma marca conhecida e outro de marca branca, o primeiro supostamente trará aos seus consumidores um maior status e
índice de felicidade.
É de verificar-se que a invasão permissiva da publicidade nos sistemas de ensino deve-se à falta de
recursos económicos por parte do Estado para uma permanente atualização das
ferramentas educacionais, obrigando então escolas e faculdades a recorrer ao
suporte das corporações.
O
computador “Magalhães” (oferecido a escolas primárias pelo Estado) é um exemplo
que ilustra o transporte da publicidade para dentro das escolas através das
tecnologias.
Outrora, no
período da adolescência, frequentei uma escola secundária que recorria à
publicidade principalmente em épocas de campanha: as listas. Estas, a fim de
obterem adesão por parte dos alunos/eleitores, eram patrocinadas por marcas,
favorecendo os estudantes com descontos nas mesmas (como em escolas de condução).
Atualmente,
na Universidade de Lisboa, é possível desvendar-se publicidades ocultas. Todos
os cartazes da RedBull, os bares da
“Tapioca” e as campanhas publicitárias da “Yorn” e “WTF” levam-nos a crer que
aquele produto será melhor do que o que temos e trará mais vantagens. Estes patrocínios
foram certamente proveitosos na compra dos computadores da Apple que vemos na sala de estudo e dos projetores que integram
cada sala. Não obstante, o exemplo mais pertinente que demonstra a relação da
faculdade com corporações será a parceria com a Caixa Geral de Depósitos que,
através de um marketing agressivo, “impõe-nos”
um cartão, transmitindo a ideia de que é imprescindível para o uso de certos
serviços na faculdade.
Em
suma, a evolução tecnológica corrompeu o único espaço que até aos anos 1990 não
era subjugado pela publicidade, a escola.
Beatriz Carvalho (148857)
Grata pelo seu empenho no trabalho pedido, pela revisão seguindo as sugestões oferecidas e pela partilha, Beatriz!
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