Primeiramente é necessário mencionar que a Compal é uma marca bem situada
dentro do contexto português, criada há várias décadas e de fácil
reconhecimento.
O mupi que nos é
apresentado encontra-se situado no Metro de Lisboa, local movimentado e
frequentado por consumidores de diferentes estratos sociais e de todos os
géneros e idades, algo que os próprios produtos da Compal acabam por refletir:
tanto podem ser consumidos por crianças como por adultos. Ao apresentar-se nos
mupis do metro, vai ser visível tanto por quem está dentro dos metros a passar,
como por passageiros no cais que aguardam a chegada do seu transporte. Como
grande parte dos consumidores utilizam este transporte na sua rotina diária,
ligada a sentimentos de exaustão e de agitação, a presença de um produto que se
apresenta como sendo “fresco” e “saudável” no meio do caos prende a atenção e
tenta ao consumo de quem o vê.
O produto publicitado
é um sumo natural feito com goiaba branca vinda do Egito. É importante
mencionar que o próprio mupi vai servir como uma moldura, separando o cais do
metro do mundo egípcio, muito mais colorido e com cores mais claras. O poster apresenta
diferentes planos, sendo que no plano de fundo (em segundo plano) observa-se um
campo, com trabalhadores a colher o que se assume serem goiabas. Em primeiro
plano temos o produto, já finalizado, juntamente com goiabas dentro de um barco
num rio (que aqui se assume ser o Nilo). Um dos aspetos que se observa
rapidamente no mupi são os ecos visuais das goiabas, repetidas no barco, no
rótulo do produto e nos trabalhadores. Estes ecos formam também um triângulo
que aponta para o produto. O cenário límpido e cheio de animais, como o peixe,
o crocodilo, o pássaro e as libelinhas, pretende transmitir a ideia de Natureza
e frescura. O próprio trabalhador a beber (o que se assume ser o produto)
indica que é uma bebida fresca que o ajuda nas suas tarefas árduas num clima
desértico como é o do Egito. Esta ação do trabalhador tem uma segunda intenção,
formando uma ligação entre o passado e o presente, mas também uma ligação geográfica:
Compal é um produto usado tanto aqui como no Egito, e também é um produto que
vem da altura desse grande império.
Relativamente ao texto
verbal, comecemos por analisar o retângulo no rótulo que diz “Edição Limitada”.
Este texto ajuda a inserir uma certa urgência na obtenção de um produto que rapidamente
poderá desaparecer, sendo visto como ainda mais especial por ser apenas obtenível
num curto espaço de tempo. De seguida, temos o slogan para esta campanha em
particular, presente no topo da página. Segundo a análise feita por David
Machin, somos capazes de dividir o mupi segundo uma linha horizontal entre o
slogan e o produto, dividindo o “tesouro mais bem guardado de sempre” (o ideal,
o não alcançável) e o próprio produto, o real, o sabor egípcio das goiabas que
não somos capazes de recuperar de mais nenhuma forma. De seguida, salienta-se
que há uma repetição de “Goiaba branca do Egito” tanto no slogan como no
rótulo, para relembrar o consumidor que a bebida é exótica e internacional. O
rótulo é ainda composto pelo logotipo da Compal seguido da palavra “Clássico”
que ajudam os consumidores a terem a garantia de que estão a beber da marca que
já conhecem e que continua a ser o “Clássico”, o sabor e a textura que sempre
tiveram. Em baixo temos o slogan da Compal, que faz referência ao “natural”, o
que é replicado pelo anúncio. Neste anúncio embora tenhamos dois atores sociais
no plano de fundo, estamos distanciados deles, nem sequer sendo capazes de os
ver de frente, dado que o objetivo principal é o produto. Todo o cenário tem
como objetivo transportar o consumidor ao antigo Egito, dado ser um local e uma
época que é conhecida por grande parte da população como uma época de florescimento
e de riqueza, principalmente em zonas perto do rio Nilo. Como o consumidor não
é capaz de experienciar essa época do “tesouro mais bem guardado” é-lhe dado um
pequeno sabor dessa época e do melhor que ela tem para oferecer. O consumidor
tem ainda a garantia de que este produto é genuinamente do Egito graças ao selo
com a bandeira presente no rótulo. É também importante salientar que o anúncio
apresenta tanto elementos reais como desenhados, o que por um lado remete para
a ideia de hieróglifos, mas também serve como meio de criar um elo de ligação
entre o imaginário e o real, numa narrativa que ultrapassa as barreirar
temporais e espaciais.
O anúncio é, portanto, um convite feito ao
espetador, de experienciar uma viagem a este maravilhoso mundo, já que o metro
de Lisboa não lhe proporciona tal possibilidade.
Gustavo Nogueira, nº148367