sábado, 23 de maio de 2020

Human 1, 2, 3

Este documentário é absolutamente incrível, de uma profundidade e beleza tocantes. Tem uma banda sonora eclética e inspiradora. As imagens lembram-nos que, apesar da ganância humana, a Terra é uma casa voadora mágica. Filma gente de todo o mundo, abordando temas fundamentais para a nossa humanidade. É tocante reconhecer que somos uma gigantesca família, com mais parecenças do que por vezes gostaríamos de admitir.
Recomendo!








quinta-feira, 21 de maio de 2020

Planet of the Humans


E se as "soluções verdes" forem, afinal, mais um discurso que esconde a raiz do problema? Será que podemos continuar a consumir recursos energéticos para sustentar os atuais padrões de vida do ocidente? Este documentário ajuda-nos a pensar sobre estes assuntos e desvenda os interesses económicos por detrás da chamada "energia limpa".

Brigada do Mar

Esta ONG foi fundada por dois queridos amigos, que há mais de 12 anos dinamizam ações de limpeza da costa e de zonas fluviais. Eu mesma já participei em vários desses encontros, porque (parafraseando Gandhi) acredito sermos a mudança que queremos ver no mundo. Deixo-vos o site do projeto, onde se podem informar sobre futuras ações e inscreverem-se como voluntários, e ainda um documentário sobre a Brigada do Mar realizado no ano passado. 
Entretanto, todos podemos contribuir para um futuro mais sustentável, através de pequenas ações como as nossas escolhas de consumo (deixar de comprar produtos embalados em plástico e preferir o granel, por exemplo) e de gestos generosos como apanhar lixo quando vamos dar um passeio à natureza. Espero que se sintam inspirados e ponham mãos à obra!

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Teste_Linhas de leitura


Cotação I = 90, II = 100, Estrutura; argumentação; correção formal = 10

I
“Today there is a new world-view being produced by people making, watching and circulating images in quantities and ways that could never have been anticipated in 1990. Visual culture is now the study of how to understand change in a world too enormous to see but vital to imagine. (…) Networks have redistributed and expanded the viewing space, while often contracting the size of a screen on which images are viewed, and deteriorating their quality. Visual culture today is the key manifestation in everyday life of what sociologist Manuel Castells calls ‘the network society’, a way of social life that takes its shape from electronic information networks (1996). It is not just that networks give us access to images — the image relates to networked life on- and offline and the ways we think about and experience those relations.”
Mirzoeff, Nicholas. How to See the World. Penguin, 2015, pp. 12-13.

Comente o excerto apresentado tendo em conta a sua experiência enquanto produtor e consumidor de imagens no mundo digital contemporâneo.

Mirzoeff argumenta que os textos visuais fundamentam a nossa mundivisão (ex. Blue Marble e posteriores fotografias do planeta Terra) e têm impactos sócio-políticos a uma escala cada vez mais global. Para mais, a técnica de visualização digital (que veio substituir a fotografia analógica) combina fragmentos para apresentar uma totalidade significativa, muito à semelhança do nosso modo de ver e ler o mundo.
A Cultura Visual é uma área disciplinar que nasceu no início da década de 1990 (referida no excerto em análise como ponto de comparação com a contemporaneidade), com o intuito de articular aquilo que vemos (e podemos ver) com o modelo mental/conceptual por nós usado para ler/construir a realidade e definir as nossas possibilidades de ação. Daí ser uma disciplina fundamental para politizar o contexto coevo, marcado não só pelo acréscimo da quantidade de imagens em circulação, como também pela emergência de novos modelos de interação, com o surgimento de tecnologias portáteis (o telemóvel é um micro-computador com várias funcionalidades, por exemplo) e da “sociedade de rede”.
+ tópicos estruturantes da visão contemporânea (14-15): todos os media são por definição sociais; ver é um sistema sensorial e nós estamos cada vez mais articulados com as máquinas no modo de visualizar o mundo (seremos ciborgues, com os processos biológicos progressivamente substituídos por circuitos eletrónicos ligados a redes de dados e mediatizados por ecrãs?);  as técnicas de visualização tendem a manietar a nossa perceção do mundo, desenhada de acordo com princípios ideológicos que servem os interesses corporativos e instauram a docilidade entre os cidadãos-consumidores; o nosso conhecimento resulta da aprendizagem de regras de ver (e não ver) o mundo (como poderemos ampliar a área de visibilidade?); a Cultura Visual implica uma abordagem ativista e reclama agenciamento político
De que modo a minha identidade é forjada na interação com estes novos modelos de produção e de distribuição de imagens? Como me relaciono com os arquivos de material visual que circulam no espaço virtual contemporâneo?

II
Analise este anúncio publicitário, tendo em conta os instrumentos teóricos por nós estudados. O cartaz encontrava-se no bar Cantinho das Letras, FLUL, em outubro de 2017[1].

Composição centralizada — a embalagem do produto surge centrada, sobre um fundo com limas e romãs que remetem para os seus ingredientes, também representados na parte superior da lata da bebida (os ecos cromáticos sublinham esta contiguidade semântica). A tangibilidade (vide Berger: discurso publicitário recorre a estratégias representativas da pintura a óleo, nomeadamente da natureza morta) destes frutos acentua o teor natural da bebida (“With real juice”), transferindo as qualidades dos ingredientes para a bebida (sendo aqui a frescura acentuada pelas  gotas de água, pelas cores fortes e pela romã acabada de abrir). A ideia de que esta bebida encapsula as propriedades da fruta onde se encontra sobreposta é também realçada pela declaração “Premium cider inspired by nature”, que rodeia o cesto com maçãs (o ingrediente principal da sidra) apresentado na parte inferior da embalagem.
A caixa de texto superior — “Kiss. Cider” —, ecoada no centro da lata da bebida,  apresenta o nome da marca e o tipo de produto; o recurso ao inglês distingue um público-alvo com escolaridade média-superior (tal como os alunos universitários que frequentam o bar da FLUL). O tipo de letra imitando o manuscrito frisa a rusticidade da produção (vide arvoredo no canto inferior da lata) e a autenticidade da sensação de prazer do “beijo” a que alude o nome. A originalidade deste produto é ainda acentuada pelo facto de o acento do “i” ser substituído por um desenho (a folha de uma das maçãs representadas, também a dourado, no cesto do canto inferior da lata?). Ainda na caixa de texto superior, o slogan (“É preciso ter lata!”) estabelece um trocadilho com a expressão metafórica portuguesa, apontando, a nível denotativo, para a embalagem de lata (que se torna imperativo adquirir) e, a nível conotativo, para a atitude provocatória a que alude a expressão original (consumir esta bebida torna-se, pois, um ato de rebeldia, de irreverência).
A caixa de texto inferior traduz a informação constante na embalagem e identifica o produto “Sidra com sumo natural”, sendo a qualidade “natural” dos ingredientes enfatizada pelo fundo da composição do poster, em contiguidade visual com a lata da bebida, como já acima foi referido. Por fim, na caixa de texto do canto inferior esquerdo surge um apelo à interação direta da audiência com a página de uma das redes sociais em que o produto é anunciado, e onde provavelmente o consumidor será aliciado para gerar mais publicidade para a marca (através de likes nos e/ou comentários aos posts, por exemplo).

terça-feira, 19 de maio de 2020

Posters 2020

Deixo aqui os dois posters que melhor conseguiram sintetizar e apresentar a informação resultante da análise do anúncio publicitário escolhido para o projeto de pesquisa de grupo.
(Infelizmente, a transformação de PDF para jpg baixa muito a resolução e as imagens ficam com pouca leitura...)




segunda-feira, 4 de maio de 2020

Microplásticos


Boa tarde colegas!
    Venho partilhar convosco a minha experiência numa das praias com mais microplásticos em Portugal.
    Visto que ao longo das nossas aulas temos falado sobre a importância de termos consciência da nossa pegada ecológica no planeta, decidi trazer-vos o meu testemunho. A praia de que falo situa-se nos Açores, na ilha do Faial, e chama-se Praia do Porto Pim. Enquanto alguém que nasceu e cresceu nesta ilha, posso admitir que sempre tive orgulho em dizer que passava todos os verões na areia escura desta baía. Apesar da sua linda paisagem, é impossível ignorar a quantidade de microplásticos existente. De facto, e de acordo com um estudo realizado pela Sic Notícias no ano passado, vim a descobrir a chocante realidade: ali, existem cerca de 10 mil fragmentos de plástico por cada metro quadrado!
De facto, ao contrário do que eu achava anteriormente, os pedaços coloridos espalhados pela areia não são resultado do desgaste de rochas ou de outros organismos marinhos, mas sim fragmentos de embalagens e de outros produtos à base de plástico que são trazidos pelas correntes. Claro que, apesar da praia ser limpa anualmente, torna-se impossível recolher todos estes fragmentos e deixar o areal impoluto.
Por fim, deixo-vos com esta fotografia tirada por mim onde podem ver todo o plástico brilhar na areia. Espero possamos todos levar ainda mais a sério o impacto que as nossas ações possam ter no mundo ao nosso redor.

Sofia Luís

a mente mente


O orador desta conferência pretende gerar no espectador uma alteração no modo como perceciona o mundo. São 18 minutos de monólogo inspirado que reflete sobre essa protagonista que é a mente. A mente – como todas as abstrações – tão impalpável e ao mesmo tempo tão real. A mente que à nossa semelhança é capaz das mais belas coisas e paralelamente das mais terríveis. 
A mente mente? Esta é a interrogação que subjaz a todo o discurso do orador.
 A mente mente quando nos leva a crer que estamos em défice para connosco. Correr é, portanto, o verbo que nos ocorre; procurar no exterior, no futuro, essa ilusão de satisfação/plenitude que mais não é do que um oásis ilusório.  Aliás, essa procura do que achamos necessário tende a preconizar todos os atropelos e a justificar as mais vis ações.  
O que se entende, então, por essencial nesta busca desenfreada? A resposta a esta interrogação reside na fama, no prazer, na segurança, no poder, na riqueza, no prestígio.
A mente mente quando identificamos que a plenitude resulta da materialização dos conceitos anteriormente enunciados.  A mente mente ao entender que o essencial da vida está no passado ou no futuro, negligenciando aquilo que se encontra no momento presente, naquilo que somos e fazemos a cada instante. 
A mente mente quando nos leva a crer que o mundo é azul e/ou vermelho. Quando, porventura, estas cores são resultado das lentes que subjazem aos nossos desejos e às expetativas com que percecionamos o mundo. 
A mente mente quando nos faz crer que somos independentes, visto que a nossa dependência é flagrante. Dependemos do contributo voluntário ou involuntário de milhões de seres. Esse apego material, esse egoísmo leva-nos ao esquecimento do impacto do nosso consumo. Exemplo disso é o vestuário importado – disponível nas grandes catedrais da moda – que preconiza o trabalho escravo sobretudo de mulheres, mas também de homens e crianças. O preço desta miopia ocidental é a cegueira efetiva de inúmeros trabalhadores do oriente, que, por um salário miserável, trabalham sem direitos e sem qualquer proteção, muitas vezes usando químicos altamente nocivos. A cegueira destes escravos que suprem as “necessidades” ocidentais não é opcional, antes uma condição de vida, por outro lado a nossa miopia é opcional, egoísta e desumana.   
Não se trata, porém, só daquilo que vestimos, mas também daquilo que comemos. O impacto da dieta vigente é devastador. Dezenas, centenas, milhares de milhões de animais são mortos em autênticos campos de concentração. Vidas inteiras confinadas a espaços diminutos sem possibilidade de movimento; animais sobrepostos que se mutilam.  Alimentamo-nos de animais torturados cuja carne é disfarçada com antibióticos e hormonas que nos envenenam. 
Aproximadamente 1/3 da população mundial – 2 milhões de pessoas – poderia ser alimentada com as leguminosas que servem de alimentação ao gado para abate criado nos já referidos “campos de concentração”. Esta dieta carnívora generalizada nos países desenvolvidos utiliza 70% do solo arável para criação de animais, o que absorve enormes reservas de água, esse recurso cada vez mais escasso. 
A mente mente quando nos embelezamos à custa de cosméticos testados em animais. Coelhos de olhos queimados são um dos muitos males que esta ditadura da beleza provoca para que nas estantes das conhecidas superfícies comerciais possa existir a variedade – tantas vezes enganosa – destes produtos tão essenciais a tantos e a tantas.    
A mente mente quando entendemos as touradas como uma marca identitária que pretendemos conservar. Quando levamos as nossas crianças aos jardins zoológicos na expetativa de que o passeio seja formador das mentalidades dos vindouros naquilo que deve ser o respeito pelos seres vivos. Mente quando negligenciamos as condições insalubres em que cães e gatos são mantidos nos canis.
A mente mente quando nos recusamos a meditar sobre as deficiências de um sistema cada vez mais cruel, mais desigual. A tomada de consciência de uma mente escravizada é o primeiro passo para a libertação. É imperioso dirigir a atenção para nós mesmos, mesmo que isso seja profundamente incómodo. Avançamos, obnubilados, sem nos interrogarmos dos pensamentos que nos habitam.    
Temos de nos des-iludir. Encarar a des-ilusão como algo de positivo. Olhar para dentro e para fora e ser consequentes com as nossas escolhas. Para que a mente se redima da sua mentira não podemos continuar a avançar, destemidos, pensando que continuaremos saudáveis num mundo doente (Homilia sem público, 27 de março de 2020). Meditemos…

Nilton Fonseca

Consumo


Trago-vos um artigo da The School of Life, uma organização centrada em temas de sabedoria emocional e aprendizagem geral, rápida e concisa, focando desde movimentos artísticos e filosóficos, até pessoas de renome. Este projeto pretende oferecer ferramentas práticas para melhorarmos as nossas próprias vidas e modos de ver o mundo.
O artigo reflete sobre o consumo ao longo dos tempos desenvolvendo uma abordagem histórica, tal como faz Yanis Varoufakis ao explanar a evolução da economia em Talking to my Daughter about the Economy.
O artigo refere que a modernidade é única em comparação com outras épocas devido a uma nova atividade: comprar. De facto, desde o tempo do homo sapiens, a possibilidade de consumir além do objetivo de sobreviver é extremamente recente.
Na Europa, durante o século XII, o salário de um camponês tinha como único objetivo a alimentação. No século XVII desenvolveram-se novas técnicas de agricultura, o que levou à procura de manufaturas e ao crescimento do emprego. Depois, no início do século XVIII, os salários subiram consideravelmente, e produtos considerados de luxo tornaram-se mais acessíveis a um maior número de pessoas. A classe média emergente começou a comprar produtos mais sofisticados e em maior quantidade. Passados dois séculos, a revolução do consumo espalhou-se pelo mundo inteiro. Com serviços de correio cada vez mais eficazes, era possível a entrega rápida de produtos, que circulavam através de catálogos. Em 1882, Hermann Tietz abriu em Berlim o primeiro centro comercial, de aspeto magnificente, com o propósito de induzir os compradores numa espécie de transe (“designed to loosen shoppers´ hold on reality and induce them into a trance-like state”).


Lojas Tietz, Berlim, 1910
O poder de compra permitiu ascensão social e o proprietário de uma feira popular podia ser mais rico e viver melhor do que um imperador inca. Assim, o poder aquisitivo começou a sobrepor-se às regras de etiqueta e de boa educação.
Segundo a visão dos economistas, um país deve participar na compra e venda de produtos de consumo em grande escala para ser próspero, acrescentando ainda que a força e riqueza de uma nação está nos centros comerciais e nos catálogos de compras. A ideia será que o consumo massivo garante o pagamento de impostos para assegurar o bem-estar das classes mais baixas e permitir o investimento em escolas e em hospitais.
Contudo, é importante saber como gastar dinheiro de forma benéfica e consciente, embora os seres humanos tenham dificuldade em distinguir o que “necessitam” do que “desejam”, como já sublinhara Sócrates. Assim, para além do preço, o problema do consumo está intrinsecamente associado ao nosso autoconhecimento. O nosso estado de espírito está ligado ao modo como nos sentimos, por essa razão não se devemos ir às compras com fome, pois é provável que compremos mais do que aquilo de que realmente necessitamos.
A questão, segundo o argumento aqui apresentado, é que não sabemos o que nos traz prazer: “we are untrained amateurs in the art of making ourselves happy”. Acabamos, pois por viver numa gaiola de ideias-feitas. Sem sabermos o que realmente nos traz prazer, tendemos muitas vezes a sobrepor a quantidade à qualidade. Sendo consumidores e cidadãos, é de grande importância determinar em que é que gastamos o nosso dinheiro, porque as nossas decisões de consumo, juntamente com as de outros biliões de pessoas, vão moldar a sociedade e o modo como vivemos.
Há quem defenda, aliás, que talvez devêssemos dar menos valor ao capitalismo moderno, regressar a modos de vida mais simples e redescobrir a felicidade inerente ao ser humano. Só redescobrindo quem somos seria possível consumir de modo mais consciente. Dedicamos a maior parte da vida a ganhar dinheiro; porém,  talvez fosse melhor empregarmos o tempo a descobrirmos a nossa verdadeira identidade.
Quero terminar esta reflexão com uma frase de John Berger (no 4º episódio da série Ways of Seeing, disponível aqui), que reflete o paradoxo da sociedade de consumo, em que a publicidade nos convence que gastar nos trará um aporte extraordinário, quando, na verdade, acabamos é por ficar com menos dinheiro: “Publicity proposes to each of us in a consumer society that we change ourselves or our lives by buying something more. This ‘more’, publicity persuade us, will make us in some way richer, even though we will be poorer by having spent our money”.

Nuno Dias  

'Ways of Seeing'_Episódio 1_2 comentários

            O documentário pretende fazer-nos refletir sobre a arte – dum ponto de vista ocidental, mais precisamente europeu – compreendida entre o final do séc. XV e o início do séc. XX.
            O modo como acedemos às obras relativas a este período é altamente inovadora, na medida em que para vislumbrá-las já não precisamos de nos deslocar às suas respetivas ´moradas´. Até ao advento da câmara fotográfica, ninguém havia visto estas obras como hoje podemos vê-las.
Assim como a perspetiva na representação pictórica foi inovadora, também estas novas perspetivas fornecidas pela imagem em movimento são. Esta ilusão de profundidade, conferida às representações realistas mediante o uso da perspetiva, permitiu um mimetismo absoluto da realidade. No entanto, é com o advento da câmara de filmar que o olhar humano adquire uma omnipresença até então impensável.  Há ainda uma série de inovações na maneira de apreender as imagens, a câmara mostra-nos a perspetiva de terceiros, revelando os múltiplos ângulos de um determinado objeto. Esta libertação da imagem que originou o derrube das fronteiras em que se encontrava confinada, assim como as barreiras do tempo, servia/serve para fornecer novas coordenadas interpretativas do mundo e consequentemente de nós mesmos. Podemos planar sobre determinada realidade como os pássaros, escolher e focar determinado ponto ou objeto para melhor o compreender, ou para melhor o caçar. A câmara muda não só o que vemos, mas a maneira como vemos.
De facto, tendo em conta o que acima foi exposto, nenhuma perspetiva pode ser entendida como verdadeira e total.
A pintura, ou as pinturas, só pode(m) ser captada(s) à vez, assim como só pode(m) estar expostas num lugar de cada vez. Porém, a reprodução destas imagens – mediante a câmara – torna-as disponíveis em qualquer dimensão, em qualquer geografia e para qualquer propósito.
Originalmente, as obras, tal como as nossas vidas eram destinadas a um determinado propósito; a sua/nossa função estava definida.
A Vénus de Botticelli apenas podia ser vista na sala em que se encontrava exposta, nos dias que correm esta obra pode ser vista por milhões de pessoas, em diferentes locais e ao mesmo tempo. Estas imagens são vistas dentro do contexto da nossa vida, com a nossa música, no nosso oikos, em suma, à nossa maneira.
As imagens vêm até nós, não há necessidade de nos deslocarmos até elas. Os dias de peregrinação acabaram. A imagem viaja do mesmo modo que Berger viaja até nós mediado pelo vídeo. O significado da pintura já não reside unicamente no suporte que a confina a um determinado lugar, e consequentemente a um determinado momento histórico. A imagem transformou-se em informação, os rostos das pinturas tornam-se mensagens passíveis de ser manipuladas e de manipular. No entanto, os originais continuam a ser únicos, pois são diferentes das reproduções que vemos nos postais, ou até mesmo filmadas na televisão.
Há, diante as obras de arte uma narrativa mistificadora que serve propósitos do ego de quem a descreve, ou propósitos económicos (o valor de mercado). Este valor depende inteiramente do facto da obra ser genuína, daí toda a necessidade que as instituições museológicas têm em aferir a autenticidade das peças que integram a sua coleção. Todos preferem ver a “Virgem dos Rochedos” de Leonardo da Vinci na National Gallery, visto que é essa a certificada, a autêntica. Contrariamente a esta narrativa mistificadora temos a análise das crianças, que interpretam as imagens de forma muito direta, relacionando-as com as suas expectativas pessoais.
            Por fim, Berger lembra-nos que as imagens são portadoras de diversas narrativas que encerram em si múltiplas visões do mundo. As imagens são como as palavras, ou a música – esse conduto r emocional por excelência. Escolhemos as que melhor veiculam a nossa ideia, o nosso programa ideológico.   

Nilton Fonseca

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            Com a introdução da fotografia e posteriormente do vídeo, o valor intrínseco das pinturas ficou ou foi inevitavelmente alterado. Estas democratizaram-se e as pessoas “comuns” passaram a ter acesso a imagens que antes apenas poderiam ver nas igrejas e nos conventos, ou cunhadas em moedas, por exemplo.
            Neste primeiro episódio de Ways of Seeing, John Berger procura demonstrar que a alteração do valor inerente às obras de arte deveu-se exatamente a essa democratização, ocorrida com o surgimento de formas simplificadas de reprodução das imagens/pinturas.
John Berger recusa a religiosidade e o pedantismo que atualmente, na maioria das vezes, é atribuído a muitas obras de arte. A singularidade das pinturas perdeu-se com a multiplicidade dos espaços em que estas passaram a poder ser observadas, obtendo, consequentemente, uma multiplicidade de sentidos em função desses mesmos espaços, em função do observador, do seu estado de espírito e de uma multiplicidade de fatores.
            As imagens resultantes dessas pinturas passaram assim a serem utilizadas para fins diversos daqueles inicialmente pensados pelo seu autor (vide  A última ceia, de Leonardo da Vinci, um fresco que se encontra no antigo refeitório de um convento em Milão). Segundo o autor, atualmente, a singularidade visa apenas aumentar o valor venal das obras de arte. Ainda que por vezes de forma muito subliminar, quase impercetível, também poderá servir para outros fins comerciais, como os usados na publicidade, permitindo a atribuição de uma maior grandeza ao produto anunciado (vide a referência à Vitória de Samotrácia utilizada para promover os carros de luxo da Rolls Royce).
            J. Berger vem assim alertar para a ambiguidade que a introdução de múltiplos meios de difusão veio introduzir no sentido das obras de arte.

Pedro Penaguião

Comédia


Sexo


Carro


Sumo


Telefone


sábado, 2 de maio de 2020

A beleza sempre tem um preço, mas a que custo?




Já se perguntaram de onde vêm as extensões de cabelo humano? Pois bem…. Aqui está uma história arrepiante de uma mãe indiana que cortou e vendeu o cabelo por apenas 1,81€ para dar de comer aos filhos que estavam esfomeados. Esta família, como tantas outras nos países menos desenvolvidos, vive numa situação muito precária, sendo levada a tomar medidas extremas como a desta mãe (ou do pai das crianças que acabou por cometer suicídio). É um absurdo pensar que esta mãe vendeu o cabelo por tão pouco e, no entanto, esse mesmo cabelo vai ser revendido por preços exorbitantes nos países mais desenvolvidos.
A China e a Índia são dos maiores fornecedores de cabelo humano. No entanto, na Índia, existe um ritual em que as mulheres oferecem os cabelos,O cabelo provém de um ritual de tonsura, em que participam não só mulheres como também homens. No templo hindu de Tirumala, na cidade de Tirupati, Sudeste da Índia, 500 barbeiros cortam o cabelo a dez mil pessoas por dia. Ninguém sabe muito bem o que acontece às toneladas de cabelo humano dos crentes, mas fontes credíveis dizem que o cabelo é recolhido a cada seis horas e colocado em contentores selados até ao dia do leilão anual". Apesar disto, existem casos de mulheres na Índia que são assaltadas para lhes roubarem o cabelo: “Mais de 50 mulheres apresentaram queixa por lhes terem cortado cabelo enquanto estavam inconscientes”.
A prática de usar extensões de cabelo humano é maioritariamente para fazer com que as mulheres dos países mais desenvolvidos em que estes vão ser vendidos se sintam bonitas e na moda. A grande maioria das mulheres “comuns” quer usar extensões de cabelo sem pensar na razão. A resposta poderá estar no facto de quererem ser iguais às celebridades que as usam.
                  É verdade que a beleza sempre tem um preço, mas a que custo?
Termino com as palavras do jornalista Bruno Horta, que já acima citei: “É sabido que há cada vez mais mulheres que recorrem às próteses de cabelo humano para alcançarem um aspecto glamoroso. Mas o ponto de partida do negócio é ainda um enigma: porque razão há mulheres de países pobres que vendem ou doam o seu próprio cabelo - e em que condições o fazem?”
  Micaela Juravle

https://www.sabado.pt/mundo/detalhe/o-estranho-caso-de-roubo-de-cabelo-feminino-na-india

  • Horta, Bruno."Sabe de onde vem o seu cabelo?", Público, 14/12/2010
 
  • S/A, "De onde vêm os cabelos da moda?", Correio da manhã, 25/10/2009

  •  S/A, "Mãe vende cabelo por menos de dois euros para alimentar os filhos", M80, 3/03/2020