sábado, 23 de fevereiro de 2019

Sexualização feminina e sentimento posse

Caros colegas,
Gostaria de começar este post com uma das citações mais partilhadas de Ways Of Seeing, da autoria de John Berger: "The mirror was often used as a symbol of the vanity of woman. The moralizing, however, was mostly hypocritical. // You painted a naked woman because you enjoyed looking at her, you put a mirror in her hand and you called the painting 'Vanity', thus morally condemning the woman whose nakedness you had depicted for your own pleasure".


 Paulus  Moreelse, Girl with a Mirror, an Allegory of Profane Love , 1627

Com isto quero retomar o assunto brevemente discutido na aula de ontem — a sexualização feminina, e a proibição da exposição dos mamilos. Todos sabemos que é socialmente aceite os homens andarem de tronco descoberto, e tal não é visto como algo obsceno ou indecente. Já com as mulheres, algo muito diferente se sucede. A figura feminina é tão excessivamente sexualizada que o simples ato de retirar uma camisola e descobrir o peito, tal como um homem faria, é obsceno. E cada vez mais o é. É apreciada a figura de uma mulher de roupas justas, ou com o corpo quase descoberto. Porém, para efeitos sociais, tal é considerado indecente. 
Quanto às redes sociais, é evidente a dualidade de critérios entre exposição feminina e masculina. Relembremos como a foto de Justin Bieber nu, virado de costas para a câmara, motivou comentários em grande parte positivos. Já a foto de Demi Lovato de bralette estava repleta de comentários vis e insultuosos, não só focados na roupa que tinha vestida, como no excesso ou falta (ele há gostos para tudo!) de maquilhagem, no seu peso, no penteado...

Uma mulher nunca está certa, nunca é humilde ou confiante o suficiente. No entanto um homem pode expor-se de qualquer modo, “está no seu direito” e todos assentimos. Cada vez mais há um sentido de posse sobre o corpo feminino, que parece pertencer a toda a gente menos à(s) sua(s) própria(s) dona(s). Ou seja, retomando a ideia de Berger, a exposição de uma mulher só é aceite quando é para o benefício de um homem, e ainda assim é criticada. Até quando?

Deixo-vos apenas com esta reflexão e votos de um excelente fim-de-semana!

- Ângela Baltazar, 150871

1 comentário:

  1. Grata pelo desenvolvimento desta temática aflorada na aula, Ângela. De facto, estamos numa época bastante conservadora em que o policiamento do corpo feminino serve sobretudo os interesses masculinos, como sublinha. Para mais, o facto de os homens se poderem expor fisicamente parte do pressuposto de que as mulheres não sentem desejo sexual, são seres pouco eróticos, ao contrário dos homens, facilmente provocados pela tentação da carne (por isso as mulheres não podem abusar da sua sorte ou correm o risco de serem maltratadas... como merecem!).

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