domingo, 31 de maio de 2015

Um pensamento sobre o neoliberalismo

O neoliberalismo é um labirinto sem saída. Podendo ter as suas oscilações e quedas, a visão que prevalece é a de uma subida constante, uma reta que inevitavelmente se partirá em duas e o sistema entrará em colapso.

Ainda não atingimos o clímax da versão atual do (neo)liberalismo, que precederá o caos comercial: com efeito, serão ainda estabelecidas mais políticas de austeridade para este modelo económico não-sustentável.

Quando as famílias marginalizadas começarem a frequentar centros comerciais destinados ao comércio LEGAL de órgãos, a fim de venderem os seus BENS para poderem sustentar os seus filhos, talvez aí, sim, nasça um novo modelo económico regado com algo para além do pensamento exageradamente antropocêntrico. Não deposito as minhas esperanças no teocentrismo, pois acredito que um Estado laico ilumina, enquanto qualquer outra coisa – para além da absoluta isenção de influências religiosas num Estado – profana a própria natureza do homem, que é um ser racional. Um Estado sob influência religiosa é, por diversas razões, antidemocrático, o que causa danos irreparáveis à economia de um país (basta observar, a título de exemplo, a situação da Índia).

Um dos aspetos mais importantes do liberalismo é a incompatibilidade com o socialismo, que, assim como o neoliberalismo, é igualmente uma prisão para as massas. Contudo, ambas as ideologias possuem aspetos positivos, pois nada é totalmente preto ou branco. Imagino um próximo modelo económico como algo entre o socialismo e o neoliberalismo, com todo o senso democrático do neossocialismo e a liberdade económica que está nas raízes do liberalismo, mas não nos seus frutos neoliberais. Todavia, para que esta nova ideologia se materialize, é imperioso haver alterações, e uma sociedade menos individualista é – ou pelo menos deveria ser – o objectivo comum mantendo a autonomia positiva do neoliberalismo, excluindo a dependência (doentia) proveniente da globalização.
A autonomia que está na base do neoliberalismo é algo saudável e totalmente funcional: com efeito, esta diferencia-se intrinsecamente do individualismo, na medida em que a primeira valoriza a capacidade inerente ao ser de desempenhar as suas atribuições com independência, não o impedindo, contudo, de pensar num bem maior; já o segundo, por sua vez, está estigmatizado pelo egoísmo e falta de ética.

Hodiernamente, o nosso sistema económico procura soluções – que se revelam inúteis – seja na exportação de bens, no aumento de crédito/empréstimos individuais ou no fabrico de novos produtos sem qualidade e, como tal, de maior acessibilidade. Nada resulta de forma permanente, e o neoliberalismo exige mais. O primeiro passo para se criar uma dessas soluções é identificar formas imediatas de lucros sem ter em consideração o efeito a longo prazo; de seguida, pôr em acção o plano e aumentar os lucros, manter os capitais altos mesmo após quedas significativas – o que para nós se traduz no termo “crise”. Ou seja, a atual crise é já um teaser do colapso vindouro.

Em suma, é necessário prever o futuro através dos padrões do passado, não fechando os olhos a respostas evidentes. É preciso resgatar o pensamento humanista, que já não vigora e ao qual foram subtraídos a compaixão e o senso de cidadania que aquele havia ido buscar à Grécia antiga; é, por fim, necessário recuperar o conceito de ética; todavia, nada disto será possível antes de atingirmos o fundo do poço.


Max Pinheiro; 48463

1 comentário:

  1. Estava inpirado, Max! Concordo com a maior parte do seu argumento. No entanto, parece-me que a visão catastrófica implícita na sua última frase está já a ser contrariada pelos diversos modelos de desenvolvimento alternativos que temos vindo a considerar ao longo do semestre. Por outro lado, o ser humano não é só (nem sobretudo) racional, como Descartes e o Iluminismo nos quis fazer crer. Somos sim, seres complexos, movidos por emoções, espiritualidade, desejo… em conexão íntima com todos os seres que nos rodeiam (desde as árvores aos pássaros e, claro, os outros seres humanos). Este reconhecimento constitui, aliás, o cerne de muitas destas novas filosofias que já se materializam em ações por um mundo melhor, que nos cabe a todos construir, passo a passo.

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