quarta-feira, 20 de maio de 2020

Teste_Linhas de leitura


Cotação I = 90, II = 100, Estrutura; argumentação; correção formal = 10

I
“Today there is a new world-view being produced by people making, watching and circulating images in quantities and ways that could never have been anticipated in 1990. Visual culture is now the study of how to understand change in a world too enormous to see but vital to imagine. (…) Networks have redistributed and expanded the viewing space, while often contracting the size of a screen on which images are viewed, and deteriorating their quality. Visual culture today is the key manifestation in everyday life of what sociologist Manuel Castells calls ‘the network society’, a way of social life that takes its shape from electronic information networks (1996). It is not just that networks give us access to images — the image relates to networked life on- and offline and the ways we think about and experience those relations.”
Mirzoeff, Nicholas. How to See the World. Penguin, 2015, pp. 12-13.

Comente o excerto apresentado tendo em conta a sua experiência enquanto produtor e consumidor de imagens no mundo digital contemporâneo.

Mirzoeff argumenta que os textos visuais fundamentam a nossa mundivisão (ex. Blue Marble e posteriores fotografias do planeta Terra) e têm impactos sócio-políticos a uma escala cada vez mais global. Para mais, a técnica de visualização digital (que veio substituir a fotografia analógica) combina fragmentos para apresentar uma totalidade significativa, muito à semelhança do nosso modo de ver e ler o mundo.
A Cultura Visual é uma área disciplinar que nasceu no início da década de 1990 (referida no excerto em análise como ponto de comparação com a contemporaneidade), com o intuito de articular aquilo que vemos (e podemos ver) com o modelo mental/conceptual por nós usado para ler/construir a realidade e definir as nossas possibilidades de ação. Daí ser uma disciplina fundamental para politizar o contexto coevo, marcado não só pelo acréscimo da quantidade de imagens em circulação, como também pela emergência de novos modelos de interação, com o surgimento de tecnologias portáteis (o telemóvel é um micro-computador com várias funcionalidades, por exemplo) e da “sociedade de rede”.
+ tópicos estruturantes da visão contemporânea (14-15): todos os media são por definição sociais; ver é um sistema sensorial e nós estamos cada vez mais articulados com as máquinas no modo de visualizar o mundo (seremos ciborgues, com os processos biológicos progressivamente substituídos por circuitos eletrónicos ligados a redes de dados e mediatizados por ecrãs?);  as técnicas de visualização tendem a manietar a nossa perceção do mundo, desenhada de acordo com princípios ideológicos que servem os interesses corporativos e instauram a docilidade entre os cidadãos-consumidores; o nosso conhecimento resulta da aprendizagem de regras de ver (e não ver) o mundo (como poderemos ampliar a área de visibilidade?); a Cultura Visual implica uma abordagem ativista e reclama agenciamento político
De que modo a minha identidade é forjada na interação com estes novos modelos de produção e de distribuição de imagens? Como me relaciono com os arquivos de material visual que circulam no espaço virtual contemporâneo?

II
Analise este anúncio publicitário, tendo em conta os instrumentos teóricos por nós estudados. O cartaz encontrava-se no bar Cantinho das Letras, FLUL, em outubro de 2017[1].

Composição centralizada — a embalagem do produto surge centrada, sobre um fundo com limas e romãs que remetem para os seus ingredientes, também representados na parte superior da lata da bebida (os ecos cromáticos sublinham esta contiguidade semântica). A tangibilidade (vide Berger: discurso publicitário recorre a estratégias representativas da pintura a óleo, nomeadamente da natureza morta) destes frutos acentua o teor natural da bebida (“With real juice”), transferindo as qualidades dos ingredientes para a bebida (sendo aqui a frescura acentuada pelas  gotas de água, pelas cores fortes e pela romã acabada de abrir). A ideia de que esta bebida encapsula as propriedades da fruta onde se encontra sobreposta é também realçada pela declaração “Premium cider inspired by nature”, que rodeia o cesto com maçãs (o ingrediente principal da sidra) apresentado na parte inferior da embalagem.
A caixa de texto superior — “Kiss. Cider” —, ecoada no centro da lata da bebida,  apresenta o nome da marca e o tipo de produto; o recurso ao inglês distingue um público-alvo com escolaridade média-superior (tal como os alunos universitários que frequentam o bar da FLUL). O tipo de letra imitando o manuscrito frisa a rusticidade da produção (vide arvoredo no canto inferior da lata) e a autenticidade da sensação de prazer do “beijo” a que alude o nome. A originalidade deste produto é ainda acentuada pelo facto de o acento do “i” ser substituído por um desenho (a folha de uma das maçãs representadas, também a dourado, no cesto do canto inferior da lata?). Ainda na caixa de texto superior, o slogan (“É preciso ter lata!”) estabelece um trocadilho com a expressão metafórica portuguesa, apontando, a nível denotativo, para a embalagem de lata (que se torna imperativo adquirir) e, a nível conotativo, para a atitude provocatória a que alude a expressão original (consumir esta bebida torna-se, pois, um ato de rebeldia, de irreverência).
A caixa de texto inferior traduz a informação constante na embalagem e identifica o produto “Sidra com sumo natural”, sendo a qualidade “natural” dos ingredientes enfatizada pelo fundo da composição do poster, em contiguidade visual com a lata da bebida, como já acima foi referido. Por fim, na caixa de texto do canto inferior esquerdo surge um apelo à interação direta da audiência com a página de uma das redes sociais em que o produto é anunciado, e onde provavelmente o consumidor será aliciado para gerar mais publicidade para a marca (através de likes nos e/ou comentários aos posts, por exemplo).

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