quarta-feira, 22 de abril de 2020
teaser jornal 'Público'
Gostarias de estar a par de todas as notícias
exclusivas e simultaneamente viver experiências únicas?
Vem descobrir como nesta sexta-feira, dia
24/04!
Datas de Apresentação
24 abr: Leite + Jornal + Champô
29 abr: Sumol + Carro + Perfume
6 maio: Amor + Desagradável + Sex
terça-feira, 21 de abril de 2020
sábado, 18 de abril de 2020
Teste
Cotação I = 90, II = 100,
Estrutura; argumentação; correção formal = 10
I
“Today there is a new world-view being produced by people making,
watching and circulating images in quantities and ways that could never have been
anticipated in 1990. Visual culture is now the study of how to understand
change in a world too enormous to see but vital to imagine. (…) Networks have
redistributed and expanded the viewing space, while often contracting the size
of a screen on which images are viewed, and deteriorating their quality. Visual
culture today is the key manifestation in everyday life of what sociologist
Manuel Castells calls ‘the network society’, a way of social life that takes
its shape from electronic information networks (1996). It is not just that
networks give us access to images — the image relates to networked life on- and
offline and the ways we think about and experience those relations.”
Mirzoeff, Nicholas. How to See the World. Penguin, 2015, pp.
12-13.
II
Analise o anúncio
publicitário acima reproduzido (a primeira imagem foi retirada da internet e serve só de referência de leitura da embalagem do produto), tendo em conta os instrumentos teóricos por nós estudados. O
cartaz encontrava-se no bar Cantinho das Letras, FLUL, em outubro de 2017.
quinta-feira, 16 de abril de 2020
quarta-feira, 15 de abril de 2020
Análise de texto_Resposta-modelo 4
Comentário do excerto apresentado,
considerando as estratégias discursivas dos textos publicitários e a sua função
político-económica na atualidade.
A publicidade impele o interlocutor a
adquirir, não no sentido restrito que diz respeito apenas às necessidades reais
de cada um, mas antes conduzindo à aquisição de bens como veículo catártico que
promete a transcendência do sujeito, na esperança de satisfazer as necessidades
induzidas pelos mecanismos de persuasão.
O sistema político-económico-social atual
– neoliberalismo – parte do pressuposto que a escolha cabe aos indivíduos, e
que esta é alicerçada na liberdade. No entanto, urge perguntar qual será o
efetivo poder de escolha de um indivíduo que é (sempre) parte integrante de uma
comunidade?
A lógica capitalista do consumismo
oferece-nos várias opções, não resultando daí necessariamente um verdadeiro
leque de escolhas; num oceano de falsas opções onde residirá, então, a
liberdade individual?
Numa matriz social pautada pelo
individualismo, pela globalização e pela liberdade individual, o consumo é
entendido como uma extensão daquilo a que podemos chamar as formas de
sociabilidade e os processos identitários dos sujeitos – ou seja, somos o que
consumimos.
A publicidade atua, e é entendida, como
reflexo inquestionável do mais abstrato dos conceitos modernos – a felicidade.
Esta torna-se uma `espécie´ de mercadoria, na medida em que é consubstanciada
na ideia – puramente simbólica –, que à mulher de César não basta ser séria,
tem de parecer séria. O homem moderno sofre deste complexo – não lhe basta ser,
tem de parecer.
Atingir este estado de plenitude que se
convencionou por felicidade implica a posse/aquisição das mercadorias imbuídas
do simbolismo a que queremos estar associados, consequentemente, aquilo que
possuímos é definidor daquilo que somos, como já acima referi.
No final do século XIX e início do século
XX, a superprodutividade e a fusão entre o capital industrial e financeiro
marcaram o início de uma nova etapa do capitalismo, de carácter intensivo e
baseado grandemente na especulação. O capitalismo financeiro intensifica e
promove a concentração de capital sob o domínio de empresas gigantescas, os trustees[1], que controlam
desde a extração da matéria-prima até à comercialização dos produtos.
Neste tipo de capitalismo monopolista, os
investimentos na criação de mais-valia para as mercadorias representam a nova
forma de concorrência entre as grandes empresas. A crescente diversificação na
produção, o uso da tecnologia em favor de uma obsolescência programada e o
estímulo ao consumo por parte da publicidade comprovam os mecanismos cada vez
mais racionais utilizados como “armas de guerra” entre os monopólios para
obtenção de lucro.
A política da social-democracia de cariz
neoliberal vigente nesta nova etapa prega a “democracia das massas”,
modificando os mecanismos do sistema produtivo a fim de instigar nos indivíduos
novas carências, que levam ao consumo de grande diversidade de bens
industrializados.
A industrialização, a crescente urbanização
e o anonimato a que os indivíduos foram expostos, sobretudo nas grandes
metrópoles, colaboraram em grande medida para modificar a forma como se
configuram as relações sociais na contemporaneidade. As mudanças na estrutura
económica e nos valores socioculturais abriram espaço para a formação de novas
fontes de referência na composição da identidade individual. Duas das
principais fontes de referência são a publicidade e os mercados financeiros,
que reforçam uma sociedade de consumo de massas. A força da publicidade na
implantação destes novos modos de vida é inquestionável. De facto, o seu papel
manipulador permite que as exigências do modo de produção capitalista sejam
cumpridas.
Simultaneamente, as formas de organização
do trabalho foram alteradas, possibilitando a criação de novos métodos para
intensificar o ritmo da produção. Os princípios do taylorismo[2] e do
fordismo[3] foram
levados às últimas consequências, o que aumentou ainda mais a necessidade de
fazer escoar esta superprodução.
Os Estados bem ´abastecidos´
promovem/vendem a ideia de bem-estar social, da chamada “qualidade de vida”. As
crises de superprodutividade e subdemanda que, por sua vez, exigiram a
ampliação do mercado (sobretudo para o consumo de bens supérfluos) e a
reestruturação das necessidades individuais, são em larga medida promovidas
pela atuação da publicidade, que, acelerando este processo de “educação” dos
indivíduos para o consumo massivo, encaminha a humanidade para o abismo
existencial. De facto, a alienação, o egocentrismo, o narcisismo, o vazio e a
superficialidade, com impacto tanto a nível sociopolítico como ecológico, são
algumas das características da sociedade de consumo e da produção em
massa.
Bibliografia
BERGER, Jonh. Ways of
Seeing. London:
Penguin, 2008.
Nilton Fonseca
[1] Trustees
são estruturas empresariais típicas do que se convencionou como capitalismo
monopolista. Exemplo disso foi a compra da Yahoo e da Nokia pela Microsoft.
Nesse sentido, boa parte do mercado, ao invés de ser gerido pela lei da livre
concorrência, está condenado ao monopólio ou ao oligopólio, embora –
aparentemente – as grandes fusões do mercado atual não tenham extinguido a
competição.
[2] Forma de organização do trabalho baseada em tarefas
simples e rápidas, desenvolvida pelo economista norte-americano Frederick
Taylor (1856-1915).
[3] Forma de organização do trabalho proposta por Henry Ford
(1863-1947) e baseada no trabalho em cadeia e na produção em série, que deu
origem à produção em massa.
Análise de texto_Resposta-modelo 3
Neste pequeno excerto, John Berger
apresenta uma das ideias-chave desenvolvidas ao longo de Ways of Seeing, nomeadamente, a relação intrínseca e promíscua entre
publicidade e capitalismo. Segundo o
autor, toda a publicidade serve para promover o capitalismo, tendo como
mensagem implícita o convite para um tempo futuro idealizado, retirando o
consumidor do presente com a promessa de um amanhã melhor, proporcionado pelo
produto anunciado. Esta projeção de um tempo distante e intangível é a
principal estratégia discursiva do texto publicitário.
Para Berger, a roda viva da
publicidade visa exatamente alimentar a máquina do neoliberalismo através da
capacidade de incutir no consumidor uma insatisfação generalizada quanto ao seu
modus vivendi presente, convencendo-o
da premência em participar no fluxo de consumo desregrado, instituído e
patrocinado pelas grandes corporações e construído unicamente em função dos seus
interesses financeiros, sob a sombra permanente de não ser reconhecido pelos
seus pares. Este efeito é conseguido pela publicidade com a projeção implícita da
imagem que fazemos de nós próprios, num tempo futuro com o objeto prometido. Usurpando-nos
o nosso amor próprio, a publicidade devolve-no-lo pelo preço do produto
anunciado.
Assim, passamos a invejar esse nosso “eu
futuro”, produto da inveja dos outros, e nisto consiste o glamour. Invejaremos o glamour,
esse sentimento mercantilizado, destituído de qualquer valor experiencial e,
portanto, impossível de ser alcançado. A perpetuação desta estratégia, ou seja,
a razão pela qual as pessoas não deixam nunca de acreditar na publicidade e nas
vãs promessas que esta continuamente nos oferece, é conseguida, segundo o
autor, porque a veracidade da publicidade é avaliada não pelo real cumprimento
das promessas, mas pela relevância das fantasias criadas no imaginário do
consumidor, que nada têm a ver com o produto anunciado, mas sim com a sua imagem
publicitária.
Segundo Berger, a democracia parece
ter sido o campo propício para a disseminação deste conceito desprovido de
qualquer vivência experiencial, nomeadamente, através da promessa contínua da
felicidade individual que a própria democracia advoga como um direito universal.
Contudo, a solidão de ser invejado
num futuro feliz enquanto objeto dos olhares dos seus pares, terá gerado a
separação destes, fazendo do glamour
a promessa frustrada da democracia. Alcançar essa felicidade, exige assim,
segundo o autor, a necessidade de destruir o paradigma publicitário daquilo que
queremos ser, o que será alcançável apenas através do derrube do capitalismo,
que nos deixa impotentes e desempoderados, afastando-nos do tempo presente, com
promessas recorrentes de satisfação a cada compra.
Tal só se conseguirá pela
concretização do ideal de democracia que, segundo o autor, terá ficado a meio
caminho com a associação, sustentada pela máxima do individualismo, entre os conceitos
de democracia e capitalismo promovida pelas grandes corporações. E esse derrube
só será possível pela desconstrução da ideia de naturalização.
De facto, só através da realização de
juízos críticos que utilizem estratégias de desfamiliarização (desconstruindo o
que nos é familiar), conseguiremos deixar de tomar como naturais as mensagens
que nos são transmitidas desde a infância, através de narrativas que se
perpetuam no tempo, suportadas por esta e outras estratégias que asseguram a
indeterminação dos sentidos e a continuidade do establishement definido pelo poder económico. A publicidade usa e
promove esse artefacto de continuidade da narrativa.
Entre essa e outras estratégias
subjacentes às mensagens publicitárias, encontramos as já acima abordadas da obsolescência
embutida ou planeada dos bens[1];
da ambiguidade generativa das mensagens publicitárias[2];
o recurso recorrente à sexualidade e ao glamour
e à imagem projetada de felicidade na posse do bem; e também a mistificação[3]
que muitas vezes é utilizada na promoção desses bens, com recurso a referências
diretas ou indiretas a obras de arte, oferecendo a ideia de luxo, unicidade e
valor cultural ao bem publicitado.
Pedro
Penaguião
[1] Esta estratégia induz os consumidores a participarem no fluxo
desregrado da economia, de forma a dinamizá-la com uma sua renovação
permanente, ainda que desnecessária, através de uma produção exploratória da
mão-de-obra dessas mesmas pessoas, que cedo foram familiarizadas com a ideia de
alienar esse seu tempo presente, através da futura aquisição de um bem
idealizado.
[2] Pelo facto de muitas vezes os anúncios não especificarem o que está a
ser vendido, o consumidor projeta-se na narrativa associada aos mesmos.
[3] Segundo J. Berger, as imagens do passado terão sido mistificadas em
função da pressão de uma minoria privilegiada em inventar uma história que
permitisse justificar o papel da classe governante. Era assim antigamente com
as obras de arte do passado, e é assim atualmente com a referência publicitária
às obras do cânone artístico e cultural, com a transmissibilidade do
significado e da autoridade das obras artísticas para o mundo publicitário.
Análise de texto_Resposta-modelo 2
Neste
trabalho será analisado um excerto da obra Ways
of Seeing, publicada em 1972, baseada
no programa televisivo homónimo, de John Berger. O excerto em análise pertence
ao sétimo capítulo do livro, dedicado ao discurso publicitário e à sua
influência na sociedade contemporânea.
O autor relaciona o discurso
publicitário com o sistema económico no qual se insere - o capitalismo, caracterizado
pela propriedade privada dos meios de produção e pela sua utilização com fins
lucrativos, podendo o seu início ser datado após a rotura com o feudalismo. Já
na segunda metade do Século XX, o neoliberalismo, designação baseada no modelo
capitalista Laissez Faire do final do século XIX, ganhou poder sobre as então
prevalentes políticas económicas Keynesianas, com a eleição de Margaret
Thatcher e Ronald Reagen, no Reino Unido e nos Estados Unidos da América,
respetivamente. Atualmente, a nível global predomina a economia neo-liberal,
caracterizada pela baixa intervenção do Estado na economia, o que tem não só
impactos negativos a nível social, mas também a nível ambiental. Em Talking to My Daughter About the Economy: A
Brief History of Capitalism, Yanis Varoufakis relata como, com o avançar
das sociedades capitalistas e de livre mercado, houve um aumento do valor de
troca dos bens e serviços, em detrimento do seu valor experiencial. O autor
chama a este processo de “mercantilização”, descrevendo-o como “the unstoppable
victory of exchange value over experiential value (...)” (34). Esta “mercantilização”
é promovida através do discurso
Publicitário, que nos rodeia diariamente. Quer seja através de mupis, ou da
Televisão e da Internet, é estimado que sejamos expostos a cerca de 3000 anúncios
por dia, de acordo com o documentário Story
of Stuff, realizado em 2009.
A
Publicidade tem um e um único objetivo - vender um produto ou serviço. No
entanto, como diz John Berger no 4º episódio de Ways of Seeing: “The things publicity sells are in themselves
neutral, just objects and so they have to be made glamorous by being inserted
into contexts”. De facto, uma coisa é vender um frasco que contém 100 ml de um
líquido odorífico, outra é vender um pedaço de masculinidade/feminilidade que
irá garantir a atração do sexo oposto. O primeiro é o produto em si, que
podemos adquirir numa loja; o segundo, é a ideia, o sonho que a Publicidade nos
quer transmitir e vender.
Basta
ver qualquer anúncio a um perfume que rapidamente se percebe que o que estão a
vender não é o perfume em si, mas uma vida alternativa em que somos e estamos
rodeados de pessoas mais atraentes em ambientes luxuosos. A publicidade,
diz-nos John Berger, é o processo de criar glamour (131).
Este glamour apela aos desejos profundos do ser humano, como os de serem
felizes, aceites e amados por aqueles que o rodeiam. O discurso publicitário
propõe que mudemos as nossas vidas através da compra do produto que promove (idem).
Assim, torna o espectador insatisfeito com a sua vida atual e sugere-lhe que se
comprar o que estão a oferecer, a sua vida será melhor. O discurso publicitário
utiliza apelos emocionais, por oposição a à racionalidade, e utiliza técnicas
de storytelling, criando uma narrativa à volta do produto que vende. São estas
narrativas e glamour que fazem os consumidores seguirem a sua mensagem, isto é,
comprarem.
Concluindo,
todas as empresas têm um objetivo - ter lucro. Para isso precisam de vender,
sendo a publicidade o que liga a empresa ao consumidor. Sem publicidade não venderiam,
o que significa que iriam à falência. Daí John Berger declarar: “Publicity is
the life of this culture – in so far as without publicity capitalism could not
survive” (154).
Bibliografia
Berger,
John, Ways of Seeing. Londres,
Penguin Books, 2008.
Varoufakis, Yanis. Talking to My Daughter About the Economy: A Brief History Of
Capitalism. Londres, Penguin Random House
Uk, 2013.
Eduardo Letria
terça-feira, 14 de abril de 2020
Análise de texto_Resposta-modelo 1
Partindo do princípio de que estamos inseridos
numa sociedade que adota um sistema económico neoliberal, em que as grandes
corporações, do domínio do privado, têm relevante influência nas decisões do
Estado, que em princípio, seria o órgão representativo da soberania popular,
então, torna-se previsível a maneira como a publicidade vem orientar a forma
como vivemos. De facto, devido a este contexto, as empresas, acabam por
influenciar de forma decisiva as escolhas que fazemos como consumidores. Em Ways of Seeing, John Berger convida-nos
a fazer uma reflexão relativamente à influência que a atual cultura de imagem
exerce no comportamento social, ajudando-nos a compreender alguns aspetos da
sociedade capitalista e consumista em que vivemos.
Na atual conjuntura político-económica a grande
variedade de marcas que encontramos no mercado, vem desencadear uma
competitividade desenfreada entre elas, sendo cada vez mais difícil ganhar
espaço no mercado, de modo que as empresas adotam as mais diversas estratégias
discursivas para serem notadas pelos consumidores. Tendo em conta, ainda, que a
componente visual tem sido desenvolvida como uma das principais, senão a principal, formas de comunicação da sociedade
contemporânea, a imagem ganha então um peso estratégico a nível comercial,
sendo o estudo da cultura visual indispensável para questionar e desconstruir ideias
que são vendidas como naturais pelas corporações.
É muito comum os anúncios publicitários usarem estratégias
de venda que apelam a conceitos de natureza imaterial, como por exemplo, a
felicidade, a amizade, a sensualidade ou o amor, ou seja, conceitos que
nitidamente não podemos comprar mas que, no fundo, são basilares para que nós,
seres humanos, consigamos construir uma vida próspera e harmoniosa. No entanto,
o que a publicidade vai fazer é exatamente tentar convencer-nos de que, ao
consumirmos determinado produto, teremos mais amigos, nos tornaremos pessoas mais
atraentes, mais sociáveis ou, seremos mais amadas, quando na realidade o
desenvolvimento e potenciação destas qualidades/estados de espírito implicam
uma outra dinâmica, que nada tem a ver com o consumo de produtos. É a partir de
estratégias similares que se dissemina uma série de inversões de valores, como
a ideia de ter em vez de ser, fazendo-nos crer que as nossas posses são um
reflexo daquilo que somos, e os bens materiais constituem um veículo necessário
para se criar os conceitos de comunidade, de integração e de identidade de
grupo – eu sou aquilo que consumo e pertenço a, bem como me integro em
determinado grupo, porque escolhi usar determinada marca (vide o argumento de
Naomi Klein, em No Logo).
Outro tipo de discurso eleito pela publicidade é
construído a partir da ideia de falta e/ou de falha, tal como também é abordado
Ways of Seeing: “The purpose of
publicity is to make the spectator marginally dissatisfied with his present way
of life” (p.142). A publicidade encoraja-nos a consumir para suprir uma necessidade
inexistente, criada pelo próprio discurso publicitário, que nos apresenta um
problema e, simultaneamente a sua solução, através do simples ato de consumir o
produto anunciado. Os anúncios que têm como público-alvo o género feminino
tornam esse aspeto bastante evidente ao anunciar produtos que prometem
livrar-nos dos pêlos, das rugas, da acne, da gordura, etc. Além disso, ao
fazê-lo, constroem uma série de estereótipos que restringem o conceito de
feminino a uma imagem deturpada e afastada do que é, de facto, real. Essa mesma
lógica atinge vários outros campos sociais, inclusive determinadas associações
que fazemos, por exemplo, a uma cultura diferente daquela a que pertencemos,
gerando, desta forma, conceções racistas, xenófobas ou misóginas, que nos
impossibilitam de enxergar outras realidades com a mesma naturalidade com que
enxergamos a nossa, abrindo espaço para conflitos sociais baseados na
intolerância.
A publicidade caracteriza-se, pois, por um
discurso limitado que provoca o desenvolvimento de um pensamento alienado, restringindo
a capacidade individual de desmistificar as mensagens que estão por detrás das
suas campanhas, induzindo, assim, a uma cosmovisão limitada, baseada em padrões
capitalistas. Desta forma, o poder de compra acaba por definir os nossos
privilégios no meio social, impondo-se como uma condição para vivermos de forma
satisfatória e bem integrada.
Karina Silva
segunda-feira, 13 de abril de 2020
Análise de texto: EstratégiaS
Publicity exerts an enormous
influence and is a political phenomenon of
great importance. But its offer
is as narrow
as its references are wide. It recognizes nothing except the power to acquire. All other human faculties or needs are made subsidiary to this power. All
hopes are gathered
together, made homogeneous,
simplified, so that they become the intense yet vague, magical yet repeatable promise offered in every purchase. No other kind of
hope or satisfaction or pleasure can any longer be envisaged within the culture of capitalism.
Publicity is the life of this culture — in
so far as without publicity capitalism could not survive — and at the same time
publicity is its dream.
Capitalism survives
by forcing the majority, whom it
exploits, to define
their own interests
as narrowly as possible. This
was once achieved
by extensive deprivation.
Today in the
developed countries it is being achieved by imposing a false standard of
what is and what is not desirable.”
Berger, John. Ways of Seeing. 147-148.
Comente o excerto apresentado, considerando
as estratégias discursivas
dos textos publicitários e a sua função político-económica na atualidade.
Berger sublinha a natureza política da publicidade que, a nível
económico, enquanto força motriz do sistema capitalista, incentiva ao consumo
constante, garantindo o pressuposto do crescimento contínuo do lucro; a nível
cultural, enquanto narrativa hegemónica do imaginário ocidental, restringe os
interesses da população, cujo desejo é circunscrito às escolhas de consumo, sob
a promessa de liberdade. Na verdade, em nítido contraste com os meios de
dominação usados noutras épocas históricas, em que a privação de bens
essenciais era a arma para manter a hierarquia sociopolítica, no contexto
contemporâneo democrático o potencial agenciamento dos cidadãos é substituído
pelo seu empenho mercantil. Ou seja, reforçando a atual cultura da distração, a
indústria publicitária dirige a vitalidade individual e coletiva para “um falso
padrão do que é ou não desejável”, limitando os sonhos à aquisição material.
O autor estrutura o seu argumento através da antítese entre efeitos e
estratégias do discurso publicitário: os primeiros limitam a ação humana ao
“poder aquisitivo”; as segundas recorrem a uma pluralidade de referências. De
facto, em Ways of Seeing (capítulo 7
e episódio 4 da série homónima da BBC), Berger
demonstra como as estratégias de sedução publicitária são criadas por uma série
de narrativas protótipo, como por exemplo, a Cinderela cuja condição social
melhora magicamente através da aquisição do produto publicitado; a família que
harmoniza seus relacionamentos ao investir em mobiliário que torna a casa
acolhedora; a figura masculina de meia-idade que aumenta a sua potência sexual,
logo, a sua capacidade de sedução, devido ao dinheiro de que dispõe para gastar.
Estas narrativas, muitas vezes implícitas nos anúncios, caracterizados por uma grande
contenção formal, geram glamour e inveja, i.e., em última instância, solidão e
competitividade, valores promovidos pelo sistema neoliberal.
Poderiam ser evocados para diálogo os textos de Varoufakis, Naomi Klein
e Judith Williamson, assim como o vídeo The
Story of Stuff.
sábado, 11 de abril de 2020
boa ressurreição *
1h30 de entrevista no canal de notícias alternativo LONDONREAL, com o Bruce Lipton,
criador da epigenática, um médico extraordinário que reflete sobre os
efeitos provocados no sistema imunitário pelo discurso de terror na
mediatização e gestão política deste vírus da gripe. vale muito a pena
ouvir!
sexta-feira, 10 de abril de 2020
Calendário_2
abril
8
Conforme anunciado
atempadamente, realizou-se nesta data uma aula extra.
Machin, David.
"Representation of social actors in the image", "Composition and
page layout". Introduction to Multimodal Analysis. Bloomsbury,
2010. 109-158.
15
Ler publicidade
17
Teste
22
Apresentações orais do trabalho de pesquisa
realizado em grupo
24
Apresentações orais do trabalho de pesquisa
realizado em grupo
29
Apresentações orais do trabalho de pesquisa
realizado em grupo
maio
6
Apresentações orais do trabalho de pesquisa
realizado em grupo
8
Afinal, o que é a Cultura
Visual?
Versão final do poster digital + Lista posts/comentários
blogue
Avaliação
Presenças — 5%
Participação —15%
Análise de texto — 20%
Projeto de pesquisa — 30%
Teste — 30%
Agradeço que nos próximos
dias enviem uma mensagem [conforme indicado anteriormente, é fundamental incluírem
todos os membros do grupo na mensagem, de modo a dialogarmos junt@s] para o
email da cadeira, com uma proposta de data de apresentação do vosso trabalho de
grupo; as datas serão confirmadas no início da aula de 15 de abril.
O teste
será realizado online, através da plataforma Zoom, no horário da unidade
curricular, com meia hora de tolerância. Peço o favor de se apresentarem na “Sala
de espera” a partir das 17h45, para eu realizar a vossa admissão e podermos
começar a avaliação às 18h. Ser-vos-á disponibilizado o enunciado do teste —
com uma pergunta teórica (sobre um excerto de um dos textos por nós estudados)
e outra prática (análise de um anúncio publicitário).
Deverão enviar-me as vossas
respostas até às 20h (20h30 máximo) para o email da disciplina (culturvis.flul@gmail.com) em dois
formatos Word (por favor, quem não tem o programa, arranje-o até lá) e PDF; os
documentos devem ser guardados/identificados com o vosso primeiro e último nomes.
sábado, 4 de abril de 2020
Pub análise_Beleza
Vimos como este anúncio exemplifica a teoria de DMachin pois o texto verbal e o texto visual transmitem mensagens contraditórias, tal como sucede com frequência nas revistas femininas (vide capas de revistas portuguesas atuais).
Pub análise_SAS
Pensámos juntos sobre os motivos que terão levado à suspensão desta campanha que advoga um conceito de cultura dinâmico, além do orgulhos separatista na base de ideologias extremas. É interessante refletir sobre o modo como o tempo é aqui abordado, nomeadamente tendo em conta as reflexões de JWilliamson sobre a condensação temporal e a apropriação da narrativa histórica.
Pub análise_CC Zero
Vimos em saula várias possibilidades de leitura deste spot publicitário, que gera humor através da deflação de expetativas criadas no momento em que o jovem casal consegue o que parecia ser um momento de intimidade, após adormecer o bebé. Esta publicidade vive da narrativa implícita e apenas em dois momentos apresenta o produto — quando a figura masculina o consome e no final, visto em grande plano na mesa de cabeceira ao lado do intercomunicador ligado, pois, mesmo a dormir, os pais continuam em alerta face aos ruídos da sua cria.
quinta-feira, 2 de abril de 2020
CONTRAPOINTS E CORPORALIDADE
Segundo
o cânone clássico da filosofia acessível ao público pelo ensino secundário e pela
opinião popular, quem filosofa são pessoas antigas de séculos passados, alemães
rígidos com palavras compridas e sentido de dever. Dificilmente estabelecemos
uma ponte entre o panteão dos filósofos e os assuntos mais quentes da
contemporaneidade, como feminismo e políticas de género no ocidente. Afinal quem é que participa na
filosofia hoje em dia?
O tema
da corporalidade, por exemplo, foi abordado em 1962 por Merleau-Ponty apontando
uma relação entre a consciência social, cultural e o corpo: “A cultura
científica ocidental requer que tomemos os nossos corpos simultaneamente como
estruturas físicas e como estruturas experienciais vividas”.[1]
A
corporalidade é o modo como habitamos o corpo ocupado por toda as questões da
vida. Cada corpo tem uma
experiência diferente. Cada uma destas experiências resulta de preconceitos,
hábitos, medos e vivências.
Os
intelectuais de hoje vêm de vários backgrounds,
o canal de YoutUbe ContraPoints é um bom exemplo para começar. Natalie Wynn, a
sua autora, é uma mulher transgénero que deixou a carreira universitária em
Filosofia para se dedicar a este projeto. O seu canal nasceu para argumentar
contra conteúdos alt-right (alternative right) e de extrema direita, discutindo
também políticas de género no atual ambiente político. Por exemplo, o seu vídeo
Men propõe um
diálogo com uma comunidade pouco discutida na coletividade de esquerda na
internet: os novos homens, adaptando-se às exigências dos tempos contemporâneos
e sentindo-se, por vezes, atacados pelo discurso do feminismo radical(izado).
Natalie Wynn
Wynn
sublinha que poucas pessoas têm a experiência de viver em dois géneros
diferentes e poder olhar o mundo de perspetivas distintas. Sendo trans, a
filósofa-performer admite que pode ter algo de interessante para partilhar relativamente
à sua experiência. O facto de ser uma mulher branca fê-la perceber que, em
geral, as mulheres têm direito a ser cuidadas, “os homens fazem coisas por
mim”, andar à noite tornou-se mais assustador e agora não mete medo a ninguém (“ninguém
tem medo de mim”). Ou seja, o fator que mudou não foi só o corpo, mas sim a
forma como as outras pessoas respondem a esta corporalidade, social e
culturalmente.
Segundo
a youtuber, os homens são tratados como perigosos por definição. Isto pode ser
malicioso especialmente se tivermos em conta outras identidades. Natalie Wynn
conta a situação num elevador onde ela se encontrava sozinha com um homem
negro, que começou a assobiar a música infantil “Row Row Your Boat”, numa
tentativa de mostrar a sua inocência. Tendo em conta os preconceitos raciais da
cultura estado-unidense, Wynn apercebeu-se de que aquele homem temeu que ela
tivesse medo por estar sozinha com um homem negro. Sugiro, pois, vivamente uma
tarde a ouvir os pensamentos e opiniões desta mulher e de outros youtubers como
Kat Blaque e
Oliver Thorn.
Kat Blaque
Ana Nobre
[1] Dreyfus,
Hubert L. "The Embodied Mind, Cognitive Science and Human Experience"
Mind, vol.102, no. 407, 1993.
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